Cadernos Negros Volume 28 - contos de vários autores foi o primeiro livro dessa coleção que eu li. Um livro que não são apenas contos, mas sim manifestos, histórias negadas e o firmamento de uma cultura (afro brasileira), vista por muitos intelectuais como inferior. Ao ler tive a convicção que a história afro-brasleira, assim como a periférica, além de se cruzarem a todo instante, só são tratadas com o devido respeito e valor quando seus interlocutores são os próprios membros dessa cultura.
Não há pesquisa acadêmica que supere a riqueza de informações de um conto do livro Cadernos Negros, pois ali esta a vivência e a história desmerecida pelos centro de saberes tradicionais. Durante a leitura, eu identificava o choque cultural e racial, descrito nos contos, algo que acontece no nosso dia a dia e passa batido, mas causa consequências negativas que só quem vive sabe efeito. Assim como na exclusão social vivida pela personagem Sara, no conto "Os prazeres de Sara", do escritor Sacolinha, uma jovem que perde todo sua familia num incêndio na favela e reduz sua vida sem perspectiva, a cachaça. Ou no conto "Revolucionário" de Helton Fesan, que demonstra como a educação de escolas e professores mal preparados podem massificar verdades e diferenças no universo infantil do afrodescendente. E ainda no conto " O Exu e o Pastor " de Tico de Souza, que relata com precisão e esclarecimento o desrespeito de igrejas evangélicas, com a espiritualidade de matriz africana, de prática milenar, reduzindo a crenças demoníacas. Falando em nome de Deus, mas sem tirar o Diabo do verbo.
Depois de ler Cadernos Negros Volume 28, a primeira vontade que eu tive foi de ler mais essa coleção que também publica poemas e está no mercado editorial a mais de 2o anos. Fazendo uma resistência cultural silenciosa (pelas palavras), mas de extrema importância.
Michel da Silva
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Um comentário:
Esse livro já tem um tempo, mas é um dos meus prediletos. Valeu a força!
Helton Fesan
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