Ser periférico
Ser afro -brasileiro
É viver na dificuldade
Conviver com o desespero
Desigualdade, preconceito
Sem saúde, sem respeito
Educação ruim, nenhum tostão
Se não for jogador, ainda posso ser ladrão
Não sou herdeiro, não sou chefe
Convite só por crime
Pra trampar ninguém oferece
Não quero essa sina
Só resta ser catador de latinha
Chega de vida sem ternura
Vou me viciar me
Me viciar em leitura
Depois pra manter o vicio vou traficar
A todo momento
Traficar conhecimento
Pra me sentir seguro vou andar armado
Sem procurar treta
Minha arma: papel e caneta
Vou descarregar meu ódio
Apontar minha mira
Toda revolta calada
Na palavra, a ira
Vou virar terrorista
Soltar uma bomba no país
Explodir barreiras mentais
Valorizando minha raíz
Serei um assaltante
Roubarei a cena da cidade
Tudo que eu quero e não tenho
Conquistar as oportunidades
Depois vou matar
Matar toda minha familia
Matar de felicidade única
Por entrar na faculdade pública
Na faculdade farei um sequestro
Vou sequestrar nossa história
Falar da nossa gente
Ser mais um Elo da Corrente
Buscar nossa glória
Falar da nossa dor
Do nosso valor
Deixar de ser somente a tese do doutor
Por tudo isso serei considerado um criminoso
Um homem perigoso
Pois meu verdadeiro crime
É exigir nossa parte desse enorme bolo
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