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sábado, 28 de fevereiro de 2009

INDICAÇÕES (PÓS CARNAVALESCAS)

Poxa, num é nem que nós num gostamos de carnaval, acredito na importância sim, faz parte da nossa cultura também, mas por conta da falta de grana e da necessidade e tesão de organizar o trampo e as leituras, comparecemos somente na roda do "Samba da Quebrada" em Pirituba no domingo (mulheres na linha de frente do samba) e depois ficamos internados em casa.

Rendeu aquilo que é o mais valoroso dos valores, o conhecimento!

Quero indicar as leituras que fiz, cutucar a fome dos leitores.

Michel.





Rasif - mar que arrebenta (Contos)
Marcelino Freire
Editora Record

Esse é a ultima artimanha desse escritor pernambucano, que tive a oportunidade de fazer algumas oficinas de nesse mês.

Estilo inconfundível, seus contos são cantos poéticos, cheio de lirismo "Se minha esperança é um grão de sal/ Espuma de sabão/ Nenhuma terra a vista..." (Para Iemanjá), verbos escrachados e espinhentos, daquelas leituras que só parecem ter um paragrafo e incomoda nossas reflexões a cada titulo "Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochechado Felipe..."(Amor Cristão) .

O canto "Da paz" merece ser lido em ritmo gritante para dizer "Eu num sou da paz... Paz é coisa de rico... Não solto pomba nenhuma não, senhor..."

Sem contar que essa obra já revela grandes descobertas já no titulo e sub titulo, em referência direta a sua terra de origem.




A Sociedade do Código de Barras
O Mundo dos Mesmos (Romance)
Preto Ghoéz
Editora Estaçao Hip Hop

Obra póstuma desse grande guerreiro da literatura marginal e do hip-hop nacional.
Essa obra era pra ser uma trilurgia (com os subtítulos "os Transeuntes " e os Diferentes"), mas só a primeira parte foi concluída.

Já havia lido uma versão menor do livro, que contém o prefácio do Ferréz, dois poemas do Ghoéz e a introdução do romance, em que um dialogo deixa bem evidente: "Isso num é um a porra de um livro... pois os livros de fazem dormir"

O romance conta a saga da frente de resistência Reviravolta, principalmente na ação dos guerreiros Marvic e Yasia, em batalha constante com o corporação UNC-S, liderada por Settaglib, pelo senador Ferdinand Cardozo e por Sasha, filha de uma finada "rainha das crianças" (qualquer semelhança com os nomes não é mera coincidência).

Durante a leitura fiquei pensando em todo debate que rola sobre a nossa produção literária em relação a escrita militante, sem ser essencialmente planfletária, mas ser acima de tudo uma escrita literária. Acredito que Preto Ghoéz conseguiu unir as duas coisas, pois relata realmente uma história de militância e repressão, que por vezes da uma aula de militância na prática, em uma escrita de muita realidade-ficção, de criatividade lírica e narrativa que nos faz caminhar por entre a "Avenida Paulo Lins" ou sentir o ar da praça com "busto em homenagem a Ferréz".

Na concepção do autor existem três tipos de pessoas: Os Mesmos, os Transeuntes e os Diferentes e cada página fica bem definido qual é a personalidade de cada um, só não vou escrever pra não estragar a leitura de ninguém.

Uma leitura de ponta cabeça, literalmente.


O mestre João Antonio


Malhação do Judas Carioca (contos)
João Antonio
Editora Civilização Brasileira


Caramba! Escrever sobre João Antonio é covardia. Esse livro foi um achado. Estava em andanças perto do metrô Belém e de longe avistei um sebo. Parecia um nóia vendo uma bocada. Vou falar a real, tinha 15 conto no bolso, filhos únicos, mas não resisti. Já cheguei fuçando nas prateleiras e achei esse logo de cara, levei sem pensar em prejú, saí no lucro.

Badalei na boemia carioca do bairro da Lapa e dos Cais, virando noites seguidas em cabarés, damas da noite, mesa de sinuca e só fui dormir quando a "Avenida Nossa senhora de Copacabana já avistava o caminhou do leiteiro" e A Central do Brasil já trazia os batalhadores do subúrbio, em seus trens lotados de pingentes".

O texto que mais gostei, acho que por conta da temática, foi "É uma revolução", em que a cidade de belo Horizonte toma cara de clássico em dia de Atlético e Cruzeiro, dos tempos de Tostão e Piazza, da inauguração do Mineirão. Onde o próprio autor escreve que Minas nunca mais foi a mesma depois do Mineirão.

Na prosa "Corpo a Corpo com a vida" João Antônio descreve sua relação com o processo criativo e seu compromisso em escrever sobre a realidade popular, na relação corpo a corpo, sem formulas prontas e estéticas algemadas a veneração do épico, dos deuses e dos escambau a quatro.
Definitivamente uma aula imperdivel de literatura e uma bica no saco dos críticos rebuscados e conservadores.

A Cor Púrpura (Romance)
Alice Walker
Circulo do livro

Leitura forte, daquelas que muda nosso humor e paciência, mas uma obra que a cada carta que Celie escrevia pra Deus, pra sua irmã Nattie, eu me envolvia nesse universo negro feminino de descobertas, injustiças, abusos e esperança entre a segregação racial dos Estados Unidos e a exploração e intolerância da cultura africana.

Alice Walker nos domina pela linguagem sem preocupação em retratar uma linha padrão de comunicação, todo escrito devidamente como é falado, traz uma veracidade ainda maior ao enredo.

Esse é um clássico que também foi pras telas de cinema, ainda não assisti, mas que com certeza não pode deixar de ser lido e debatido em sua relevância nas relações de genero, racismo e relativismo cultural.

É isso

Boa leitura!

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