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terça-feira, 15 de maio de 2012

em breve: acorde um verso (michel yakini)

LANÇAMENTO EM JULHO/2012





acorde um verso é livro que veio de gole em gole, sem pressa, sem prazos e nem pressões. considero, e há controvérsias minhas, que começou a ser tecido no fim de 2007, após ter publicado meu primeiro livro de contos “desencontros”, quando ainda assinava como michel da silva. nesse meio tempo nasceu minha filha yakini que me rebatizou e trouxe mais traquinagens aos meus dias.

de punhado em punhado fortaleci a intenção de escrever pra valer e mergulhar fundo nas palavras, nas esquinas da criação, na trama da fala pareada com a escrita (fusão e confusão), girando e sentindo as vozes e as páginas nos saraus quebrada afora, berço de poesia e celebração.

no engenho da escrita é certo que não há como se dar bem sem antes ler um bucado, não só de “a” a “z”, mas ler também o beabá do mundo, pois a poesia está nas frestas de cada segundo, pena que na maioria das vezes a gente ignora. agorinha mesmo a pequena olhou pra mim e disse, com uma tampa de cesto nas costas: “Papai, vamô vuá cumigo?”. ai de mim ser adulto e não ouvir a poesia dela, por isso quando eu crescer quero continuar sendo miúdo.

talvez é assim que me faço poeta:
sendo adulto pra decifrar métricas e ritmos, miúdo pra achar as pontinhas de cada céu, ao manuelzar de barros a bandeira, osvaldiar e drummundiar de andrade, escalar infinitos de antunes a aleixo, aquilombar letras com limeira, semog, cuti, miriam, geni e assumpção e ir assim... lesminskiando inspirações... ceciliando versos...

versos que me deram fôlego pra marear o atlântico de volta rumo aos ventos de pedra salgada de corsino fortes em cabo verde, onde visitei a cela I no triste campo do tarrafal, pra trocar leituras e sentimentos de liberdade com o mestre craveirinha de moçambique. depois, ainda me sobrou tempo pra se achegar em luanda e sentir que a esperança de agostinho neto é tão sagrada quanto os solanos cantares de trindade. ainda em angola, saboreei os frutos amargos de paula tavares, que me aconselhou a prosear sobre pirilampos com o camarada ondjaki, que tanto esbarro agora pelas bandas de cá.  

às vezes, quando estou conversando sobre poesia com outros amantes, muitos me perguntam quando comecei com essa de poetar e sempre me lembro de algo diferente: não sei se foi assistindo as giras de terreiro que tanto me cativavam tentando imitar cantos e tambores no corpo, ou quando assumi meu eu - lírico muleque pra escrever cartinhas pras namoradas dos meus amigos a pedido deles, ou no sonho de rabiola pra passar um rélo nos aviões que passam cheios de pompa no ar, ou quando fazia do quintal o certame maior do mundo e tocava a bola na meia cancha pra junior que passava pra romário que lançava maradona que de canhota achava carecone livre e...de-fen-deu zééétti´! ou será que tudo começa nesse cheirinho bom de bolinho de chuva em dia de chuva com gosto de mãe na volta da escola?

talvez que seja tudo isso junto e mais um pouco que me fez acordar em verso, 
que me fez acordar um verso.

talvez seja assim que me fiz poeta.



3 comentários:

SERGIO BALLOUK disse...

Michel, Que venha esse novo rebento pra fortificar, frutificar, espalhar amizades e novos encontros poéticos.

Érica Peçanha disse...

Acho que seu ativismo e sua sensibilidade em observar e escutar também contribuíram muito pra te fazer poeta/escritor. Fiquei muito tocada com o texto e já estou ansiosa pelo resultado do trabalho. De todo modo, sei que todo o processo já foi muito valoroso! Sorte e sucesso!

Érica Peçanha disse...

Acho que seu ativismo e sua sensibilidade em observar e escutar também contribuíram muito pra te fazer poeta/escritor. Fiquei muito tocada com o texto e já estou ansiosa pelo resultado do trabalho. De todo modo, sei que todo o processo já foi muito valoroso!