A Copa, já diz
no nome, é pra quem tem copa. Os estádios brasileiros são elitistas desde
sempre, tanto que antes, desde o inicio do século XX, tinha um estilo comparado
aos atuais desfiles de chapéus-botox nos turfes no Jóquei, foi só o fim da Geral
que deixou tudo como antes e tirou uma parte, que eles chamam de “penetras”,
da festa. Essa é uma pauta perdida.
Agora nas ruas o caldo tá engrossando, só me surpreende as surpresas:
A ditadura
havia acabado só pra vocês! A polícia é violenta todo dia! A gente tem medo
dela, sim. Porque quando querem nos calar, não vem com bala de borracha, é
chumbo no lombo, mané. Porque sabem que a gente não tem advogado solidário pra
nos defender. Porque sabem que não vai ter celebridade se maquiando com nosso
sangue. Pois a gente é a parte que pode sumir.
Como diz um amigo meu: "Jacaré que vacila, vira bolsa de madame". Tô ligeiro, e não me
inflamo de emoção, mesmo quando isso me ameaça, pois cinco minutos ouvindo com
alegria o coro do “povo” me fez vacilar e ficar de costas pra um grupo de “Carecas
Nacionalistas” exigindo seu bolo na democracia, com faixas bem legíveis pedindo
“Intervenção Militar, Já!”. Tô ligeiro! Sei bem de quem eles
querem o fim e quem eles seduzem pra parceragem. Falta pouco pro Datena, o
Willian Bonner e Fátima Bernardes, mais o Boris Casoy colar. O Jabor já
pediu desculpas, tá juntão!
Na boa, não
caio nessa de levantar slogan: “Verás que um filho teu não foge a luta” e ficar
cantando o hino nacional, carregando bandeira de “ordem e progresso”, e dizendo
“eu amo minha pátria”. Sou filho da dona Maria Elisa, a merendeira da escola, e
foi pra ela que eu expliquei o motivo de estar lá, só pra ela. Depois que a
onda passar o foco vem pra gente e é possível que todo ódio acumulado dos
coturnos seja descontado nas quebradas mais uma vez. Ou onde vocês acham que eles
fazem seus treinamentos e descarregam a fúria contida, pra te proteger?
Pátria? Parece
papo de TFP. Tô aqui de imposição, desde os navios, depois nos paus-de-arara e
agora pela migalha oferecida pra servir. A minha mãe é mãe solteira!
Ainda sim, o
melhor lugar agora é as ruas!
Ficar na
quebrada, mais do que nunca, não vira! Só chega noticia de telejornal bomba e indignação de quem não consegue terminar seu turno até as seis ou chegar a
tempo de ver a novela das nove. Então é melhor colar, somar no que nos
interessa, mas sem empolgação, saber onde anda. Até porque tem muitos dos
nossos lá, na linha de frente.
Mas ficar
andando na Vila Olímpia, na Berrini, dá a seguinte sensação: De que a qualquer
momento o “povo” vai atravessar a rua, virar uma esquina, e entrar pra dentro
dos prédios chiquetosos, no seu “lar doce lar”, e a gente vai ficar mais uma
vez esperando o trem sujo da Leopoldina.
Mas já que você
acordou de seu sono tranquilo, ganhou o beijo de cinderela, e agora acha legal
ser auto intitular “povo”, saiba que pra mim é nada, de novo, cara pálida!
Caminhada atentada,
sem tempo pra lagrimar!
Porque se o “povo”
conseguir o que quer é certo que eles voltem pros cursos endinheirados das
faculdades públicas, pras escritórios engravatados, pros condomínios de luxo,
pros pedidos de paz branca na Paulista, pra cara pintada de tucano e pro jantar
que está servido. Espero estar enganado, mas tá com cara, mano véio, que pra gente não dê em nada, de novo!
2 comentários:
Respeito, mas discordo. Tinha gente de todo lugar, de todas as classes participando, por isso foi importante. O movimento é romper com a apatia. Vejo que rico e pobre já se acostumaram a rir e a chorar, respectivamente, e toda a raiva que supostamente surge é efêmera, pois sempre nos faltou união. Agora é hora de tentar desfazer esse ciclo de repetição.
Quanto a ir pra lugares ricos, eu concordo que é triste, pois é o único lugar que a mídia e o sistema enxergam.
Falou e disse,Michel! Você é negro, conheço e reconheço sua voz, mas sinto falta de uma demarcação maior da dimensão racial neste texto enérgico e contundente. Minha crítica ecoa em ti ou não? O abraço fraterno e carinhoso de sempre, Mano (e você sabe que não te chamo assim por modinha, mano pra mim, é mesmo quem é irmão).
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