O selinho amigo de
Emerson Sheik em seu sócio Isaac Azar caiu na boca do povo e cutucou um debate
tabu no futebol: a homofobia. Enquanto a Camisa 12, torcida organizada do
Corinthians, erguia faixas pedindo retratação do jogador, afirmando que “ali é
lugar de homem”, a diretoria do clube se calou e o técnico Tite o deixou no
banco no jogo seguinte justificando “cunho técnico e disciplinar”, o fato é que
o jogador foi substituído e se mostrou insatisfeito na partida anterior, até aí
parece que nada tem haver com o selinho. Quem sabe?
Sheik foi a tv e pediu
“desculpas se ofendeu alguém”, mas condenou os xingamentos que recebeu, depois
fez uma reunião fechada com a Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians,
e mais uma vez pediu desculpas, explicou que “Foi só uma brincadeira com um grande amigo meu, até porque eu
não sou São Paulino", logo quis dizer que não é “Bambi’ (tratamento
pejorativo dito a torcida rival) e retornou a seu posição
hetero-confortável.
Não dá pra
negar, Sheik sempre foi um cara ousado: fez gato pra adulterar a idade, foi
indiciado por contrabando de carros, tem uma macaca como bicho de estimação,
fala o que pensa, não abaixa a cabeça pra confusão, quando jogava no Flu
provocou sua saída ao cantar um funk que exaltava sua passagem pelo Fla, entre
tantas outras. Além do que é craque, campeão e artilheiro de mão cheia,
principal responsável por livrar o Corinthians de uma zoação histórica pela
falta de uma Libertadores, é um cara acostumado a quebrar paradigmas, mas pera
lá...
Sheik, que
foi apelidado assim pelo seu reinado no futebol Árabe, nada tem de Milk. Na fervura
do selinho, colocaram nele uma coroa que não lhe cabe: o de ativista
anti-homofobico, e sua atitude digna de um jogador sem amarras, foi enaltecido
ao posto de linha de frente pela diversidade. Mas ele avisou “era só uma
brincadeira” como quem diz: não quero ser a favor, nem contra, me deixem...
Emerson não
está na linha do já falecido atacante Lilico, ex-jogador de vôlei, que foi o
primeiro atleta que se pronunciou abertamente gay, quando a palavra
homossexualidade ainda nem estava em desuso. Muito menos na linha da atacante
Michael, do Vôlei Futuro, que hostilizado pela torcida do Cruzeiro, em uma
partida decisiva da SuperLiga em 2011, não se acuou, dizendo abertamente sua
orientação homoafetiva e repugnando a atitude dos torcedores rivais, tanto que
na partida seguinte Michael foi apoiado por seus companheiros, pelo clube e
pela sua torcida, esse sim um acontecimento histórico na luta contra homofobia
no esporte.
Os exemplos
do voleibol vêm na contramão da boleirada, que quando pressionados pela aura
macha do futebol, negam qualquer mal entendido, arrumam logo uma namorada e
pedem até desculpas “caso tenha ofendido os homofobicos”. Pra não passar
batido, Sheik calçou uma chuteira com os dizeres “fora preconceito”, com letras
de tamanho equivalente a sua preocupação com o caso.
Há quem viu
nesse selinho um espelho dos tempos áureos da democracia corintiana, mas
comparar a atuação politica de Sheik ao nível de Sócrates, Vladimir, Casagrande
e Cia. é querer esticar um chiclete já mastigado.
O Sheik boleiro
nada tem haver com Milk, Harvey Milk, ativista gay que revolucionou as ruas e o
comportamento da cidade de São Francisco na década de 70 e virou tema de um
filme ganhador de Oscar. Repito: Emerson Sheik, que já avisou que não é “são
paulino”, e quer continuar sendo Sheik, pelos gols e pela dinheirama que conquistou
no Oriente, e por isso está longe de merecer os louros de uma luta tão séria como
se fosse um Harvey Milk.
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