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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Novembro: maré cheia! (Por Michel Yakini)



Há quem diga: Estamos aí o ano inteiro e o mundo só se lembra da gente em novembro. Tem mês que o telefone demora pra tocar e o e-mail chega fica árido, já em novembro tudo muda e eis que aparecem as flores da primavera.

Mas poderia ser diferente?


Em 1971, o poeta Oliveira Silveira e o Grupo Palmares de Porto Alegre, criaram o 20, pro 13 não ser nosso único dia visível, e isso não foi em vão. A diferença é que antes era tudo via cheque sem fundo da princesa, e agora rasgamos a página da mentira pra garantir um sobrenome palmarino.

Natural que novembro seja o mês da maré cheia pra quem se movimenta na cultura negra. A paliçada firmada nos anos 70 tem aberto os caminhos, é fato.

Vejo a batalha de quem ainda atura e bate de frente com o cancelamento do 20, em favor do racismo-mais-do-mesmo, como em Curitiba. Casos e mais casos: o genocídio nosso de cada dia, a leitura de privilégio em vez de reparação, a repetição enojada do “já que tem o dia da consciência negra, devia que ter o dia da consciência branca”... Santa Paciência... Além disso, nossa memória causa um incomodo quando é relembrada. Nossa memória é nosso segredo, nossa trama, nossa fortaleza e deixa inquieto quem só quer nosso fracasso.

Por isso, é importante valorizar cada germinação. Esse mês tenho trabalhado bastante, seja em oficinas, cursos, saraus, apresentações, encontros e debates. Às vezes ganhando justo, às vezes ganhando o que tem, também na parceragem e prestigiando outros cantos, frutificando.

Por conta de tantos dias na pista, não consegui manter a escrita em dia, o estudo aperta nesse finzinho de ano e ando mais trabalhando e estudando, do que escrevendo.

É bom! Assim as palavras vão pro descanso necessário, pra ser vista com mais calejo e menos paixão. Senão é um tal de escrever-publicar-escrever-publicar que soa estranho.

Seria bacana se a demanda do 20, fosse balanceada no restante do ano, pra gente poder realizar mais atividades, e não ser lembrado em um único mês.

Mas uma coisa de cada vez.

Esses dias mesmo... Conversei com uma professora e não encontrei um dia livre pra trocar uma ideia com seus alunos. Então sugeri: chama a gente antes, professora e deixa o novembro pra se alimentar do que a gente temperou mês a mês.

Minha mãe sempre ensinou: Feijão de molho além de dar mais caldo, fica fácil de cozinhar. Então quem quer preparar a roda da Consciência Negra, é bom não esperar o 1º de novembro chegar. Senão é mais difícil e menos fundamentado.

Mas seguimos: uma coisa de cada vez.

Aos novembros que são e aos que virão, pra que o dia se torne mês e o mês se torne ano e nossa consciência seja plena. Que venha!

Axé sempre!

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