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terça-feira, 31 de julho de 2007

DISTOPIA - PARTE I por Michel da Silva

Raimundo saiu correndo da obra que havia sido contratado naquela semana e correu pro banco pra descontar seu cheque e pagar seu aluguel. Era sexta feira Faltavam poucos minutos pro banco fechar, a dois quarteirões da obra. O Aluguel tava atrasado há alguns meses e sua situação era de risco. Graças a Deus ele havia arranjado um emprego e não seria despejado pela imobiliária. Tava em cima da hora, Raimundo nem trocou de roupa, toda suja de massa e poeira de entulho. Correu e encontrou o banco aberto. Foi entrar pela porta giratória e não conseguiu, tentou forçar, mas a porta não girou.

- Não pode entrar mais não! – falou o segurança
- Mais falta cinco minuto pra fechar. Eu tenho que entrar! Preciso receber e pagar o aluguel, homi!
- Já fechou, só vai ser atendido quem ta lá dentro!

Na mesma hora um senhor vestido de terno e gravata foi entrando no banco, normalmente. Quando passou na porta o segurança apertou o controle pra porta girar. Raimundo ficou nervoso e foi girar a porta. O segurança travou de novo. Desejou até boa tarde pro senhor que entrou, todo imperativo.

- Mais óia ai! O homi entrou no banco! Pro que eu num posso entrar?
- Ele é cliente, tem reunião marcada e ordem pra entrar! – justificou o segurança.
- Mais eu também tenho conta ai, homi, nesse banco memo! – Raimundo gesticulava sem conseguir passar na porta.

Muito nervoso e se sentindo injustiçado Raimundo perdeu a paciência e tentou forçar a porta. Continuou reclamando e o segurança entrou pra dentro da agência. Voltou com um outro engravatado que olhou Raimundo de rabo de olho e voltou pro interior da agência. O segurança ficou encarando Raimundo, que do lado de fora continuou xingando, muito nervoso.

Em poucos minutos chegou uma viatura com dois policiais no local. Eles desceram da viatura, receberam um sinal afirmativo do segurança e foram em direção a Raimundo de arma na mão. Sem entender muito bem e sabendo que estava com razão, Raimundo disse:

- Ainda bem que a Policia chegou, quero ver se eu não vou entrar nesse banco, agora! Oi seu guar...
- Seu guarda o que, vagabundo! Olha como se dirige – retrucou o policial.
- Mas...
- Você que ta chutando a porta do banco ai, seu vagabundo! Mão pra cabeça!
Revistaram Raimundo, não encontraram nada, somente seu cheque que estava na mão.
- Onde cê roubou esse cheque, hein?
- Não, não! Eu trabaio ali.
- Ali aonde, não tem nome não? Cadê o documento?
- Deixei no canteiro, homi, num lembro o nome da rua é ali em baixo.
- Sem documento e vem quebrar a porta do banco!
- Num quebrei nada não.
- Vai, vira, vai pra delegacia, explicar direito essa história.

O segurança olhava com uma cara de deboche, enquanto fechava, somente naquele momento, a porta banco. A Viatura partiu e levou Raimundo algemado, com uma cara de tristeza e confusão.

Chegando a delegacia Raimundo foi jogado numa espécie de jaula, que ficava no fundo do corredor. Alguns investigadores chegaram gritando:

- Ta depredando porta de banco, então... Tira a roupa agora que se vai vê o que acontece com quem quer ser arruaceiro!

Raimundo começou a tirar a roupa e pensou que iria apanhar, mas na verdade os policiais estavam era tirando uma onda com a simplicidade dele e como não tinham o que fazer resolveram sacanear. Não bateram no Raimundo, mas deram uma canseira humilhante nele que só foi solto no outro dia de manhã. Na hora que o delegado do turno seguinte chegou...

- Vai, some daqui! Da próxima vez vai ficar preso. Arruaceiro de uma figa! – antes de liberá–lo o delegado deu uma tapa na cara de Raimundo
O gerente do banco ligou pro delegado, no dia anterior, e pediu pra dar uma lição em Raimundo, dizendo que era tinha vagabundo querendo tumultuar e estava amedrontando os clientes. A ordem foi executada perfeitamente.

Raimundo não conseguiu receber, ficou sem dinheiro pra comprar os mantimentos pra sua família no fim de semana, também não conseguiu pagar o aluguel como havia prometido pra imobiliária e ainda tomou tapa na cara. A ordem de despejo estava pronta e era o ultimo prazo, como Raimundo não cumpriu, teve que deixar a casa. Raimundo foi direto, da Delegacia, pra trabalhar na obra, pois temia perder o emprego. Ele não contou o acontecido a ninguém, pois não queria preocupar a sua mulher, que pensou que ele passou noite na gandaia e nem queria ser motivo de chacota entre os peões da obra.

Distopia: antônimo à utopia, geralmente caracterizada pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nela, a sociedade tida como perfeita, utópica, mostra-se corruptível, e as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis

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