Tradutor

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

UTOPIA (PARTE II) por Michel da Silva

Sexta-feira, o ponteiro marcava quinze horas e dez minutos. João saiu correndo da oficina de carros, onde era empregado, e foi direto ao banco. Não trocou nem a roupa, toda suja de graxa. O cheque que seu patrão lhe deu como pagamento do mês tinha que ser trocado, senão o fim de semana não teria feira e nem mistura. Além disso, o aluguel da casa que ele morava coma sua família, já estava atrasado.
Por sorte o banco ainda estava aberto. João foi seco passar pela porta giratória, mas a porta travou.

- Senhor tem algum pertence de metal aí? – perguntou o segurança
João fez um sinal de negativo, com um semblante confuso.
- Volta, atrás da linha e entra novamente. – pediu o segurança

João tentou passar e nada. A bendita porta travava. O segurança tava com o controle da porta na mão e depois de umas três tentativas sem sucesso, João observou que sempre que ele tentava girar a porta o segurança apertava o controle. Ele quis acreditar que era pra liberar a sua entrada, mas começou a desconfiar. Na quarta vez que o segurança pediu pra João voltar até a linha de entrada, ele ficou nervoso:

- Caramba, eu não tenho nada, não! Deixa eu entrar! O banco vai fechar, eu preciso troca o cheque, homi!

O segurança foi pra dentro da agência e voltou com um homem vestido de terno e gravata. Ele olhou João e ficou cochichando com o segurança. Entrou de volta e nem falou nada. O segurança foi até a porta e perguntou:
_ Você tem conta nessa agência?

- Não, homi. Só quero troca meu cheque! –Explicou João
- Então espera um pouco ai fora. – respondeu com ar de desprezo.

Sem entender, João pensou que a porta estava com problema, mas percebeu que outras pessoas entravam normalmente no banco. Ficou aguardando, pois pensou que seu problema seria resolvido. O segurança foi pra dentro da agência e um outro segurança ficou na guarita, só olhando. Depois de dez minutos, faltando quinze pro banco fechar, encostou uma viatura da policia na porta do banco, com dois gambé dentro. Um dos policiais saiu da viatura e foi direto pra dentro da agência. Quando cruzou com João deu uma olhada nele de cima em baixo. O segurança apertou o controle da porta e o policial entrou na agência sem nenhum problema, de arma e tudo mais.
O policial foi encontrar com o gerente que havia chamado a policia pra mandar João embora. Quando ligou pra policia o gerente afirmou ter um homem suspeito querendo entrar no banco. O policial conversou com o gerente, que insistiu que João não entraria. Em concordância, o policial saiu da agência e foi em direção a João e falou:

- O senhor que está querendo entrar nesse banco?
- É sim, mais não tenho nada não, senhor! – respondeu espantado
- O senhor não vai entrar ai nesse banco não e terá que me acompanhar até a delegacia. – ordenou o policial.
- Mas o que ta acontecendo? Eu só quero trocar o cheque do meu pagamento!- João respondeu quase chorando.
O policial seguiu explicando:
- O senhor não vai entrar ai porque está mal vestido e é negro. O gerente disse que o senhor é um suspeito. Então o senhor vai me acompanhar até a delegacia. Entre na viatura! – insistiu
- Mas que mal tem nisso, meu Deus – Bateu um desespero em João.
- É que o senhor terá que fazer uma denuncia de racismo, contra esse gerente e contra a instituição que ele trabalha.

O policial orientou João que, mesmo contrariado, aceitou ir até a delegacia. João fez uma denuncia de racismo. O gerente e o banco ao qual ele representava foram processados. Depois de alguns meses, a justiça deu o veredicto final e João foi indenizado pelo banco por ser vitima de racismo. Ele recebeu uma boa quantia em dinheiro e conseguiu até comprar uma casa, saindo finalmente do aluguel.

Utopia: conceito que representa uma situação ou lugar ideais onde as instituições são extremamente aperfeiçoadas.

Nenhum comentário: