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terça-feira, 20 de novembro de 2007

Homenagem à Zumbi


Zumbi nasceu em Alagoas em 1655 último líder do Quilombo de Palmares. Maior simbolo de resistência negra contra a escravidão no Brasil, é relembrado até hoje com o feriado nacional do dia da Consciência Negra em 20 de Novembro (data da sua morte).


A história do Quilombo de Palmares está intimamente ligada com a chegada de Aqualtune, guerreira africana que comandou um exército de dez mil homens quando os Jagas (etnia) invadiram o Congo. Aqualtune foi para frente de batalha defender seu reino. Derrotada, foi levada como prisioneira de guerra para um navio negreiro e desembarcada como escrava em Recife.


Em Recife, a filha do rei do Congo foi vendida como reprodutora. Obrigada a manter relações sexuais com um escravo, para fins de reprodução. Engravidou e foi vendida para um engenho de Porto Calvo, onde pela primeira vez teve notícias de Palmares. Já nos últimos meses de gravidez organizou sua fuga e a de alguns negros escravizados, indo para o Quilombo de Palmares. Por causa de sua origem nobre, assumiu o governo de uma das aldeias.


Começou então, ao lado de Ganga Zumba, seu filho, a organização de um Estado negro, de costumes e organização própria, que abrangia povoados distintos confederados sob a direção suprema de um chefe. Dois de seus filhos, Ganga Zumba e Gana Zona tornaram-se chefes dos mocambos mais importantes do quilombo. Aqualtune também teve filhas, a mais velha, que se chamava Sabina, deu-lhe um neto, nascido quando Palmares se preparava para mais um ataque holandês. Por isso, os negros cantaram e rezaram muito aos deuses, pedindo que o sobrinho de Ganga Zumba, portanto seu herdeiro, crescesse forte. E deram-lhe o nome de ZUMBI. A criança cresceu livre e passou sua infância ao lado de seu irmão mais novo chamado Andalaquituche, em pescarias, caçadas, brincadeiras, ao longo dos caminhos camuflados, que ligavam os mocambos entre si.


Garoto ainda, Zumbi conhecia Palmares inteiro, porém foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado "Francisco", Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar das tentativas de torná-lo "civilizado", Zumbi escapou em 1670 e com quinze anos e retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua inteligência, destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte e poucos anos. Passaram-se os anos e Palmares torna-se cada vez mais uma potência. Mais de 50.000 habitantes livres, distribuídos em vários mocambos.


Por volta de 1678, o governador da Capitania De Pernambuco cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou do então líder Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Poruguesa, a proposta foi aceita. Mas Zumbi olhava os portugueses com desconfiança. Ele se recusou a aceitar a liberdade para as pessoas do quilombo enquanto outros negros eram escravizados e rejeitou a proposta do governador, desafiando a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se assim o novo líder do Quilombo de Palmares.


A população do quilombo era composta de escravos que fugiam da senzala, indígenas e brancos que contrariavam o sistema escravista. Sobreviviam graças a caça, a pesca, coleta de frutas e agricultura, além de praticarem o artesanato, que muitas vezes eram comercializados com as populações vizinhas. O quilombo era protegido por sentinelas armadas, além de armadilhas em diferentes locais.


Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o caçador de índios Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, Zumbi foi traído por um de seus parceiros e foi surpreendido em seu esconderijo. Apunhalado, resistiu, mas foi morto, em 20/11/1695, com mais 20 guerreiros, quase dois anos após a batalha que destruiu o Quilombo.


Teve a cabeça cortada, salgada e levada, ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi. Em 1696 o governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, escreveu ao Rei:

"Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares."


A história do Brasil sempre foi oficialmente baseada na fala e na escrita da sociedade racista e opressora, mas a história do Quilombo de Palmares e de Zumbi prevaleceu bravamente, assim como a resistência e a luta dos nossos antepassados, que fizeram de Palmares uma realidade relembrada até hoje, há quase quatro séculos, em um país que ainda insiste em dizimar a cultura afro – brasileira de suas raízes.

Sou negro


Sou negro
Meus avós foram queimados
Pelo sol da África
Minh`alma recebeu o batismo dos tambores
Atabaques, gongôs e agogôs
Contaram – me que meus avós
Vieram Loanda
Como mercadoria de baixo preço
Plantaram cana pra o senhor de engenho novo
E fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou com um danado
Nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
Escreveu não leu
O pau comeu
Não foi um pai João
Humilde e manso
Mesmo vovó
Não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
Ela se destacou
Na minh`alma ficou
O samba
O batuque
O bamboleio
E o desejo de liberdade

Solano Trindade

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