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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

BAOBÁ: encontro literário de escritos e saberes (Quilombaque)


O projeto incentiva a leitura através da socialização e troca de opiniões sobre uma obra literaria, disponível para empréstimo durante todo o mês em nossa biblioteca comunitaria. A promoção do encontro entre autor(a) e leitores desperta o poder criativo e a consciência crítica em relação à literatura. Iniciamos o ano com o conto Olivia Guerreira de Samantha Biotti publicado no livro Antologia volume II do Coletivo Cultural Poesia na Brasa.


OLIVIA GUERREIRA


Conto de SAMANTA BIOTTI




Quando?

Dia 27/02 (segunda), 19h30.



Onde?

Comunidade Cultural Quilombaque - Travessa Cambaratiba, portão 05, Beco da Cultura ao lado da estação de trem Perus, Zona Noroeste. (11) 3915-7539.


 
Quanto?

Grátis.


 
O Conto:

OliVIA GUERREIRA

 
Rapunzel estava presa na torre mais alta da antiga floresta. Ops! Errei essa é a historia sem graça, cor ou idéia feita com dedos sujos de preguiçosos sem identidade, a historia da negra é diferente...

Olivia Guerreira é uma linda jovem de cabelo crespo, lábios carnudos, olhos cor de jabuticaba e pele negra tão intensa e brilhante como a luz do Sol e da Lua. Injustiçada, foi à acorrentada na escuridão da floresta branca, condenada ate a morte por uma bruxa feia e muito má. Foi num dia comum que ela se expressou na mais intima postura de ser humano autentico, está presa há seis anos, condenada pelas vassouradas dadas na cara da bruxa racista.

Sua rotina diária era lavar roupas, preparar a comida e cuidar do bebe da família, vivia a escravidão e para matar a fome comia os restos de qualquer alimento que sobrava nos pratos dos senhores e sinhás do enorme casarão. Tinha direito a um banho gelado, que só podia ser tomado no final do dia quando os afazeres acabavam.

Imagine você, que mesmo fazendo tudo isso ela não tinha paz, a velha bruxa grudenta ficava no seu pé o dia todo, sempre gritando e dizendo

-Olivia!Que comida horrível, você não sabe cozinhar?

-Olivia!

-Vá limpar o porão esta uma bagunça!

-Olivia!Olivia!Olivia!

Dias, meses e anos foram se passando e o peito de Olivia ficava cada vez mais apertado, estava triste e não tinha vontades, perdeu a esperança de ser feliz um dia.

Depois que atacou a velha com a vassoura deixando seu nariz mais feio e mais torto do que era, foi condenada à morte. Sua cor não lhe dava direito de resposta, porque a ação do “não” estava imposta por aqueles que desconheciam a riqueza e a diversidade da cultura. Sempre assistiu esses contos de fadas que passam na TV, mas nunca se imaginou fazendo parte da historia porque era “diferente”. Nessas historias as personagens de cor branca eram o modelo da mais alta “perfeição”. Foi assim que cresceu e em sua cabeça o imaginário se tornou verdadeiro.

Passou a sonhar todos os dias com o despertar da lua cheia e a chegada do seu amado. Ele viria para libertá-la e juntos derrotariam todo o pré-conceito dessa historia. Depois, viveriam felizes para sempre.

Nas noites de lua cheia ela cantava na esperança de que ele seguisse sua voz e viesse libertá-la.

Aqui trancada na escuridão

A luz da lua cheia arromba a fresta da telha

Imagino você, meu nego, vem me buscar

Sou de beleza rica, ancestral, AFRICA

Espero sem secar

Ai de chegar o meu dia de mudar

Colocar pra cima a poeira da neblina

Encantar o sol e o mar feito purpurina

Me entregar aos seus beijos lindos

Negros!

Com voz suave acalento seu ego

Nos tornamos um só

Sentimento, cor e respeito

Quero aflorar sem medo

A essência de amar.

Com o passar dos anos os cabelos de Olivia cresceram tanto que começaram a dar voltas nas grades da cela escura, a torre onde estava presa era muito alta e descer sozinha era impossível.

No uivar dos lobos a lua cheia nasceu cobrindo o céu de vermelho, amarelo e cinza. A noite estava fria e a neblina cercava todos os morros da floresta branca. Olivia estava cansada e para espantar os males começou a cantar, foi quando ouviu um barulho na parte baixa da torre, o cachorro de três cabeças – o guardião da torre – estava bravo e não parava de latir. Parou a cantoria e foi na fresta da janela para ver se conseguia notar alguma coisa.

De repente o barulho do cachorro parou e o que se ouvia era um grande murmurinho de pato, macaco, elefante, onça, coruja, tudo estava misturado.

Assustou-se, pensando que haviam arrumado outro guardião para vigiá-la.

Mas não, os animais da floresta se reuniram para ajudar a bela a fugi, logo foram se organizando em fila um a um frente à torre.

-Olivia!Quebre a janela vamos ajudá-la – falou a coruja.

Os animais enfileirados montaram uma pirâmide gigante, a coruja foi a ultima a subir, levando consigo pedras mágicas que fizeram com que a janela explodisse.

-Jogue as tranças, Olivia!- falou a Onça.

Ela ajeitou seu enorme cabelo que era muito forte e jogou torre abaixo, estava ansiosa, afinal era a primeira vez que encontraria o seu príncipe.

Jonas, negro de sorriso largo, lindo e carapinha de um preto acinzentado, subiu com destreza a torre agarrando as tranças de Olivia. Ao chegar no topo os dois de abraçaram.

-Vim o mais rápido que pude querida!- disse o príncipe.

-Como e bom chorar de alegria – disse ela.

No momento em que viu o príncipe, percebeu que o motivo de sua aparição não se limitava a salva-la, havia algo mais...Fortalecer a união para ajudar outras pessoas que estavam sofrendo.

Então, eles se abraçaram num movimento uniforme de gesto simples e carinhoso se olharam profundamente. Embalados pela cor e pela coragem decidiram libertar os outros empregados confinados no casarão e com a ajuda dos animais da floresta, os guerreiros se armaram de lanças, pedras e paus e foram para cima dos guardiões, derrubaram o castelo da ignorância, penduraram a vergonha, degolaram os mitos e tomaram pra si tudo que um dia lhes foi proibido.

Numa luta acirrada eles conseguem libertar os irmãos, todos fogem juntos para o morro mais distante da mata e fundam o Quilombo da Amizade.

Dizem que até hoje, ao longe no ultimo morro da grande floresta branca pode-se ouvir o canto da bela Olivia, que agora é feliz.

Vive num mar de realeza, percebeu que a sua grandeza pode realizar muitas coisas, quebrar barreiras. Ela não se casou com o príncipe que a libertou, isso é coisa de conto de farsas. Ela aprendeu que na vida real para se unir a alguém deve-se amar muito essa pessoa, respeitar, conhecer seus defeitos e qualidades e se quiser ai sim poderá estudar, estudar mais, casar, ter filhos ou ser e fazer qualquer outro tipo de coisa. Estava livre, comandando o seu traçado na vida de forma limpa, bonita e do seu jeito.




SAMANTA BIOTTI

Sarau Poesia na Brasa


http://brasasarau.blogspot.com



Coletivo Cultural Esperança Garcia


http://esperanca-garcia.blogspot.com

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