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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Na meia esquerda: Seu Antonio Leme. (Crônicas de um Peladeiro) por Michel Yakini



No oásis da Serra da Mantiqueira, em Camanducaia, o sol nos deu bom dia às 06:30, hora de se despedir da calorosa recepção que dona Vânia e Zetinho nos ofereceram em sua casa-pousada. Eu lia as placas indicando Camanducaia e me lembrava de um esforçado atacante do Santos nos anos 90, na era das "Testemunhas de Giovanni", que carregou o nome de sua cidade e deixou essa região mais famosa.

O destino apontava 30 Km de caminhada até o Bairro do Paiol, em Sapucaí Mirim. A trilha foi manhosa, mas intensa, longa. O chão carregava as lembranças aguadas do dia anterior, as araucárias estavam de braços abertos, pareciam comemorar um gol, os pinheirinhos apontavam pro céu indicando um olhar, chegamos perto das nuvens, quase pude tocá-las.

Os tornozelos latejavam, a retina pulsava, quando pensei que o  privilégio era demais chegamos no Sítio Santo Antonio, de seu Antonio Leme e de dona Ana. Terceiro dia, terceira parada, antes de desbravar o Vale do Paraíba.

Me sentei ao lado de seu Antonio e proseamos enquanto a amiga Sonia Bischain fotografava minha curiosidade, Claudio Santista e o Edu Godoy chegaram pra somar na prosa, descobri que nosso anfitrião também era santista e foi assistir jogos no Pacaembu e no Alçapão da Vila, disse com tanta atualidade que perguntei se ele gostou de ver Neymar & cia.

Ele me olhou como um menino de 83 primaveras e disse:

- Não, não, fui na época do Pelé e do Claudio Adão, acho que era Pelé x Ponte Preta... quer dizer Santos...

Seu Antonio não lembrava o ano, nem o placar da jogo, mas guarda com gratidão o fato de ter ficado no lugar mais próximo do gramado, onde ninguém podia estar, pois o funcionário da Vila Belmiro se sensibilizou com a distância que ele havia percorrido.

Me contou que no jogo "Pelé saiu escrevendo, escrevendo, passou por todo time da Ponte, levantou grama, terra, bola, cal, tudo pra dentro do gol, meu irmão palmeirense falou: Que filho da mãe."

Até os 60 anos, seu Antonio, ambidestro, 8 filhos e 21 netos, jogou suas peladas pelo Bairro do Paiol, pelo time da Fazenda Esperança, construiu o primeiro campo do lugar, testemunho confirmado por dona Ana. Não chegou a ser famoso como o atacante Camanducaia, seu conterrâneo regional, mas fez seus gols e sacudiu a alegria de muita araucária por aqui, por isso elas ficam de braços abertos comemorando como se estivessem na arquibancada da Vila Belmiro, admirando a estrela de seu Antonio Leme.

Sapucaí - Mirim
18.12.12
19 horas







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