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quinta-feira, 7 de junho de 2007

MENINO por Raquel Almeida

Menino cresceu junto de suas quatro irmãs e de sua mãe, que é um exemplo de mulher. Admiro pela força de trabalhar longos anos pra sustentar seus filhos sozinha.
O Menino sempre foi saudável, forte e bonito. Ele vivia com os muleques da rua, brincava de empinar pipa, bolinha de gude, carrinho de rolimã... nossa, muitas brincadeiras!
Os anos foram passando e o Menino crescendo, não sei o motivo, mas acredito que por embalo, ele começou a usar drogas, maconha e cocaína. Só que não ficou por ai, o Menino começou a se envolver com a mulecada que diziam ser função lá na vila. Ele agora não só usava drogas como também passava, roubava... enfim, o menino foi pego. Ele ficou preso um tempo, menos de um ano, por ser réu primário. O Menino saiu da cadeia decidido a não se envolver mais com o crime.
Não demorou muito o Menino começou a se envolver novamente com o crime, dessa vez não só por modinha, muitas outras coisas giravam em torno, como por exemplo, a falta de credibilidade das pessoas para com ele. O Menino chegou até a freqüentar a igreja por um tempo, foi para uma clinica de dependentes químicos, mas nada resolveu, o Menino voltou novamente para o crime. Em menos de dois anos ele foi preso novamente, dessa vez sua casa caiu!
Invadiram seu barraco, acharam sua arma e drogas em sua casa. O Menino foi pego junto com um colega, foram presos juntos, mais tarde o menino disse que havia sido forjado com as drogas pelos policias. Ele dessa vez pegou seis anos de cadeia, sua mãe pela grande decepção ficou um bom tempo sem ir vê-lo. Ela dizia que era pra ele aprender, pois ela não tinha criado um filho bandido.
Mas como o coração de mãe falou mais alto, ela começou a visitá-lo e não só isso, começou a fazer correria com vários advogados para soltar o Menino. Ele começou a ter saidinha nos feriados, uma vitória! Logo após ele conseguiu um emprego e passou a freqüentar a vila diariamente. Em uma dessas visitas, o menino se atrasou e pediu para um primo seu levá-lo de moto até a casa de sua mãe pra pegar o dinheiro pra ir embora.
Por um vacilo de seu primo, que estava sem capacete e fazendo graça com a moto, eles chamaram atenção de uns gambéns que estavam fazendo ronda pela vila. Os dois perceberam a aproximação da policia, só que era tarde demais, o Menino levou enquadro em condicional.
Como já era de se esperar, os policias revistaram eles e descobriram que o Menino estava um pouco atrasado pra voltar. Os policiais começaram a pesar na deles e disseram que queriam uma arma e dois mil reais. O Menino explicou que saiu do crime, que tava dando um trampo, mas os gambés não sossegaram e deram prazo. O primo do Menino ficou desesperado, ele nunca tinha se envolvido com criminalidade. Os policias anotaram a placa da sua moto e o endereço dele.
Passando esse episódio, o Menino saiu da penita e jurou que não se envolveria mais com o crime, só que tinha aquela parada a ser acertada com os policias, que falaram que se trombasse ele o forjaria ou o apagaria. Mesmo assim, ele continuou levando a vida de boa, saia ia curtir, conseguiu um trampo novo, não era registrado, mas não dava pra esperar muito por ele ter antecedentes criminais. Ele trampava como ajudante para um caminhoneiro, que o conhecia desde muleque.
Quando o menino recebeu o salário, foi comprar um panos com a namorada. Nessa de ir comprar os panos, quando estava voltando pra casa quem que ele tromba? Os policias, que disseram pra ele que só não iam apagá-lo porque o lugar tinha muita gente. O Menino gelou, mas trocou uma idéia de boa com os caras, disse que tava trampando, que não queria mais saber de crime, que tinha parado com tudo. Usando de uma falsa dó, mandaram o menino embora dizendo que o primo do menino tava na mira deles, e pro menino ficar esperto.
Depois de quatro anos na prisão o menino pensava em sair, viver em paz com sua família, aproveitar a vida, dessa vez de verdade, arrumar um trampo e ficar de boa. Só que com essa dos policias, ele ficou revoltado. Já não devia mais nada para justiça e se pá ia se ferrar por causa de policiais safados. Hoje, o menino trabalha, fica de boa, mas sempre atento quando sai na rua, pois se trombar os policias pode ser fatal.
Estou orgulhosa do Menino ter saído do crime, não só eu, como toda sua família, peço a Deus que dê forças ao menino para que ele continue assim.
O que fazer com os policias?
Só Deus sabe. Quem é periférico tem que abaixar a cabeça para os gambéns, eles são a autoridade, não podemos denunciar quando eles matam um menino da favela, não podemos denunciar quando muitos de nossos meninos são forjados, não podemos denunciar quando eles espancam um pai de família, somos obrigados a engolir mais esse sapo do governo, que mandam a policia para as ruas pra fazer esse tipo de coisa com nossos meninos da periferia.




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