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quinta-feira, 24 de outubro de 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
Resistência decepada. (Por Michel Yakini)
Ando desconfiando da minha Resistência. Minha resistência me faz ir às cadeias, aos abrigos, as escolas, me faz acreditar nas ruas, mas também me faz de extintor, que abafa o foco da explosão, e impede que a máscara do mundo seja desfacelada de vez.
É o espelho contendo a imagem e assim continuo como sempre. Mantenho-me aqui, faço de tudo pra não me exterminar, mas fico a deus dará, contando com a sorte, torcendo pra ela não ser ingrata e não me crucificar em alguma esquina.
Minha Resistência me faz assistir de camarote, a juventude estudantil fazendo greve na bolha maior, esticando a faixa de “Maio de 68”. Maio pra mim tem cheiro de morte, gosto de cárcere.
Aliás, a minha resistência quer me convencer que tudo começou em 60, quando a bomba explodiu na cara deles e futura geração-condomínio andou sumindo, antes de tomar o posto e se alinhar com a corja.
Sei bem, que se não sei ao certo de onde vim, é por que os meus sumiram desde o primeiro navio aportado aqui, carregado de estupro e ferocidade.
Sei bem, que se não sei ao certo de onde vim, é por que muitos dos meus foram jogados ao mar na travessia. Outros se jogaram por não aceitar essa patifaria. Aquilo era um recado: Você vai aceitar isso aí? Você acredita que pode mudar essa joça? Você vai sustentar essa mentira?
A minha resistência teima em ver algum adianto nisso tudo. É mil entrando na faculdade e um trilhão sendo apagado da memória. Comemos melhor, bebemos melhor, moramos melhor, mas só nos sobra sucata, lata velha e comida enlatada goela abaixo, nos entorpecendo de esperança.
Perguntei a minha Resistência: Qual é o caminho? Estudar? Se eles entram em Medicina e a gente sorri com o diploma-migalha de Logística? Revolta? Se eles continuam montando os palcos do movimento estudantil, enquanto a gente leva bala de ferro, e vive ameaçado por nós mesmos? Ir pro arrebento? Se quem planta são eles, quem refina são eles, quem industrializa são eles e pra gente só sobra o trono de ilusão, a cidadania prisional, as nóias e os gavetões do Dom Bosco? Trabalhar? Nem preciso tocar nesse assunto, né?
Por isso, cortei a cabeça da minha Resistência! Minha Resistência está decepada! Morta! Definitivamente! Arranquei de mim essa parte doente que me fez acreditar em farsas e utopias.
Aos poucos estou reconstituindo a memória, e se novamente só me sobrar a Resistência, me jogarei ao mar! Me jogarei pra não remediar os sinistros planos dos algozes.
Em honra e respeito aos meus, aos que não aceitaram a Resistência como única consolação.
A menos que a Resistência não seja o único caminho a seguir.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Eduardo de Oliveira (Fonte: Quilombhoje Literatura)
de acreditar no poder criador dos poemas" (in CN29) Na última quinta-feira, dia 12/7/12, aos 85 anos, faleceu mais um guerreiro, um poeta, um batalhador cuja biografia não sairá nos grandes jornais, mas que têm muita importância para este país. EDUARDO DE OLIVEIRA, poeta e jornalista, defensor dos direitos humanos e observador das relações raciais no Brasil, foi Vereador em São Paulo. Autor de nove livros publicados, deixou em seus primeiros poemas o sabor amargo de não ter conhecido o senhor Sebastião Ferreira e dona Henriqueta de Oliveira, seus queridos pais, mas também deixou nesses poemas uma mensagem de profunda ternura, ao reconhecer a acolhida fraterna que seu pai adotivo, senhor Francisco Salles Prudente Corrêa, sobrinho-neto do Primeiro Presidente Civil do Brasil, Prudente de Moraes, sempre lhe dispensou. A generosidade de Eduardo de Oliveira e sua ação política foram carinhosamente estimuladas pelo grande líder norte-americano Martin Luther King, em carta ao poeta paulista. Eduardo é autor do Hino à Negritude. Eduardo aderiu ao projeto dos Cadernos Negros participando dos números iniciais e depois também de outros. Que possamos guardá-lo sempre em nossa memória. FILHO ENJEITADO Meu legado, que é rico e tão valioso, deu vida à nossa nacionalidade, valorizando a própria identidade do Brasil, que se diz ser generoso! Pelo esplendor desta africanidade doada a este país, belo e formoso, quem a doou, o fez, por ser bondoso, trabalhando no campo e na cidade! Não é justo, portanto, quem persegue aquele que nos deu este legado, já que viver decente não consegue! Nossa raça quer ser reconhecida como um filho – mas não como enjeitado – por ter dado ao Brasil a própria vida! (in Cadernos Negros 29) |
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Oficina e Lançamento de livro com Cidinha da Silva (Espaço Cultural Elo da Corrente)
Cidinha da Silva é prosadora.
Organizadora de "Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras" (Selo Negro Edições, 2003, 3a edição) e co-autora de "Racismo no Brasil" (Peirópolis, 2002) e "Colonos e Quilombolas" (Irene Santos - edição da autora, Porto Alegre, 2010). Tem dois livros de histórias curtas publicados pela Mazza Edições: "Cada Tridente em Seu Lugar" (2007, 3a edição) e "Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor!" (2008). Escreveu também uma novela juvenil, "Os nove pentes d'África" (2009), "Kuami" (Nandyala, 2011), um romance para todas as idades, e "O mar de Manu" (conto, Kuanza Produções, 2011).
Participa da coletânea "Questão de pele", organizada por Luiz Ruffato para a editora Lingua Geral, com o texto "Dublê de Ogum". Tem alguns textos em processo de adaptação para o cinema e, recentemente, "Os nove pentes d'África" chegou ao teatro. "Oh, margem! Reinventa os rios!" ( crônicas, Selo Povo Edições, 2011) é seu próximo livro, no prelo.
Em 2010, seu primeiro livro, “Cada tridente em seu lugar” ( Maza Edições, 2006), ofereceu base conceitual para a campanha publicitária Novembro Negro, da Secretaria de Promoção da Igualdade do Governo do Estado da Bahia, disponível no Youtub: http://www.youtube.com/watch?v=XCdBBSqwruc É editora do blogue cidinhadasilva.blogspot.com
Oficina: A (des) construção de personagens negros na literatura infantil brasileira
Duração: 3 horas
Data: 18/10/11 (terça -feira)
Realização: Coletivo Cultural Elo da Corrente, Coletivo Cultural Poesia na Brasa e Kuanza Produções
Ementa: Os conteúdos ministrados na oficina articularão três temas, a saber:
1 - Uma mirada crítica sobre a personagem tia Anastácia e as motivações político-racistas de seu criador, Monteiro Lobato, a partir de excertos de sua correspondência a amigos eugenistas, compilados por Ana Maria Gonçalves.
2 - Comentários breves sobre personagens negros na obra de Ziraldo e nos quadrinhos produzidos no Brasil.
3 - Um olhar crítico sobre as africanidades e o personagem negro na literatura infantil feita no país pelas editoras convencionais, pelas editoras negras e pelas editoras de literatura periférica.
25 vagas
Incrições até 16/10
pelo email: elodacorrente@hotmail.com
O MAR DE MANU
O mar de Manu, terceiro livro para todas as idades, de Cidinha da Silva, é um conto pleno de poesia e imagens. São pequenas histórias de sabedoria narradas no fluxo de um dia e uma noite vividos por Manu.
A gente de Minas Gerais, assim como Manu, menino oriundo de algum lugar entre o Mali, o Níger e o Burkina Faso, precisa inventar o mar. As características geográficas desses lugares levam seus moradores a produzir metáforas sem água para representar o infinito. É o que faz Manu, personagem que aprendeu a sonhar com a mãe.
Cidinha da Silva, desta feita em um texto curto, prossegue no caminho da escritura em linguagem simples e direta que dialoga com as instâncias mais sensíveis do leitor.
O mar de Manu é a primeira publicação da Kuanza Produções, uma editora dedicada à formação do leitor literário e à ampliação do espaço editorial para as africanidades no Brasil.
domingo, 26 de junho de 2011
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Paulo Colina
Esboço
O meu braço
laço e corte
é machado-foice-
pau
o meu braço
é cimento
é concreto-britadeira
é parada infernal
sou a fome em sua porta
sou tocaia nas esquinas
olha o cano
olha o punhal
sou o asco
sou só casca
sou o nó que não desata
sou notícia de jornal
não aceito mais açoite
sou orgulho sou bravata
sou açúcar sou o sal
sou o suor pelota e grama
sou cansaço coração
sou a válvula de escape
pro seu ódio emoção
eu sou ginga melodia
berro couro alegria
todo ano carnaval
sou madeira que não verga
sou o dia sou a noite
não faz mal
Algum Conceito de Movimento
A troca rápida e precisa de máscaras
atendendo a situação da cena,
não é, companheiro, um movimento.
A impulsão nos braços fraternos
para um salto vertical, em busca do poder ao nada,
menos é, companheiro, um movimento.
O sibilar da língua bifurcada da serpente,
prefaciando uma canção dolorida e amarga,
tampouco é, meu irmão, um movimento.
A demolição das casas da mente,
antes que se trabalhe a massa e o concreto,
muito menos é, companheiro, um movimento.
Ao que me consta, meu irmão,
movimento é:
logo ao primeiro encontro,
ao primeiro aperto de mão,
um sorrir sorrindo claro e aberto
com todos os dentes dos dedos
e do peito;
um mergulhar nessa angústia
que te disseca
e sairmos prenhes da mais pura
esperança, aos tropeços, pela cidade;
os soluços calmos do suicídio
no vórtice em fogo
entre as raízes das coxas
da mulher que te completa;
a liberdade do pensamento aflito
de esquadrinhar todos, mas todos todos
os quadrantes do firmamento.
Por isso, mano velho, companheiro em luta,
continuo ao passo do meu coração armado.
Angelus Paulista
A tarde vestiu um terno cinza
bem próprio de um sóbrio senhor.
As árvores ao lado da Igreja da Consolação
dançam lentamente ao choro-garoa-fina
do tempo.
O vento entra por todos os cantos
como se estivesse em casa.
E é janeiro!
Passam ônibus, mulheres, sombrinhas,
carros, homens, guarda-chuvas,
luzes, buzinas, apressados apressados.
As prostitutas, como sempre, no seu pronto,
sempre pronto, trotear pelas calçadas.
O poste delgado de alumínio, quase beijando
o campanário,
traça no espaço uma cruz de mercúrio.
E eu, sentado nesse duro banco de bar,
inicio minha jornada pela tua lembrança.
Nação
Há esse arfar gordo:
batidas pontuadas de pés no chão.
Não nos cabe agora o cão das salivas,
o fel que navega de tempos em tempos
por nosso território.
Não nos cabe agora o bisturi
das dúvidas.
Este o momento de desatar nós internos
como nossas canções.
Onda negra de rostos contra o sol.
.
E essa cerca colorida de arcos
de berimbau
em movimento.
Resistir jamais será um equívoco.
Principais obras:
FOGO CRUZADO (contos) 1980 –Ed. Populares
AXÉ – ANTOLOGIA CONTEMPORÂNEA DA POESIA NEGRA BRASILEIRA , 1982 – Global Editora, Prêmio APCA - Melhor livro de Poesias.
PLANO DE VÔO (poesia) 1984 – Roswitha Kempf Editores
NOITE NÃO PEDE LICENÇA (poesia) 1987 – Roswitha kempf / Editores
TODO O FOGO DA LUTA (poesia) 1989 – Scortecci Editora
ENTREDENTES (teatro) – inédito
Fontes: site PCO e Literafro-UFMG
O meu braço
laço e corte
é machado-foice-
pau
o meu braço
é cimento
é concreto-britadeira
é parada infernal
sou a fome em sua porta
sou tocaia nas esquinas
olha o cano
olha o punhal
sou o asco
sou só casca
sou o nó que não desata
sou notícia de jornal
não aceito mais açoite
sou orgulho sou bravata
sou açúcar sou o sal
sou o suor pelota e grama
sou cansaço coração
sou a válvula de escape
pro seu ódio emoção
eu sou ginga melodia
berro couro alegria
todo ano carnaval
sou madeira que não verga
sou o dia sou a noite
não faz mal
Algum Conceito de Movimento
A troca rápida e precisa de máscaras
atendendo a situação da cena,
não é, companheiro, um movimento.
A impulsão nos braços fraternos
para um salto vertical, em busca do poder ao nada,
menos é, companheiro, um movimento.
O sibilar da língua bifurcada da serpente,
prefaciando uma canção dolorida e amarga,
tampouco é, meu irmão, um movimento.
A demolição das casas da mente,
antes que se trabalhe a massa e o concreto,
muito menos é, companheiro, um movimento.
Ao que me consta, meu irmão,
movimento é:
logo ao primeiro encontro,
ao primeiro aperto de mão,
um sorrir sorrindo claro e aberto
com todos os dentes dos dedos
e do peito;
um mergulhar nessa angústia
que te disseca
e sairmos prenhes da mais pura
esperança, aos tropeços, pela cidade;
os soluços calmos do suicídio
no vórtice em fogo
entre as raízes das coxas
da mulher que te completa;
a liberdade do pensamento aflito
de esquadrinhar todos, mas todos todos
os quadrantes do firmamento.
Por isso, mano velho, companheiro em luta,
continuo ao passo do meu coração armado.
Angelus Paulista
A tarde vestiu um terno cinza
bem próprio de um sóbrio senhor.
As árvores ao lado da Igreja da Consolação
dançam lentamente ao choro-garoa-fina
do tempo.
O vento entra por todos os cantos
como se estivesse em casa.
E é janeiro!
Passam ônibus, mulheres, sombrinhas,
carros, homens, guarda-chuvas,
luzes, buzinas, apressados apressados.
As prostitutas, como sempre, no seu pronto,
sempre pronto, trotear pelas calçadas.
O poste delgado de alumínio, quase beijando
o campanário,
traça no espaço uma cruz de mercúrio.
E eu, sentado nesse duro banco de bar,
inicio minha jornada pela tua lembrança.
Nação
Há esse arfar gordo:
batidas pontuadas de pés no chão.
Não nos cabe agora o cão das salivas,
o fel que navega de tempos em tempos
por nosso território.
Não nos cabe agora o bisturi
das dúvidas.
Este o momento de desatar nós internos
como nossas canções.
Onda negra de rostos contra o sol.
.
E essa cerca colorida de arcos
de berimbau
em movimento.
Resistir jamais será um equívoco.
Paulo Eduardo de Oliveira (Paulo Colina), nasceu em Colina, interior paulista, no dia 9 de março de 1950. Poeta, tradutor, ficcionista, dramaturgo, ator, cantor e compositor. Foi diretor da União Brasileira dos Escritores(UBE), seção São Paulo, em várias gestões. Com Osvaldo de Camargo, Abelardo Rodrigues, Cuti (Luís Silva) e o escritor argentino Jorge Lescano que fundou, em 1978, no Bar e Restaurante Mutamba, no Centro, o Grupo Quilombhoje, que hoje edita os "Cadernos Negros", com os quais Paulo Colina contribuiu nos números 2 e 3. Faleceu em em 8 de outubro de 1999, em São Paulo, aos 49 anos, deixando ainda dois livros inéditos: Senta que o dragão é manso, de contos e Entre dentes – drama em um ato para negros, teatro. Sua obra, embora pequena, conseguiu levar o seu discurso de respeito à diferença e contribuiu substantivamente para a divulgação da produção dos novos escritores afro-brasileiros.
Principais obras:
FOGO CRUZADO (contos) 1980 –Ed. Populares
AXÉ – ANTOLOGIA CONTEMPORÂNEA DA POESIA NEGRA BRASILEIRA , 1982 – Global Editora, Prêmio APCA - Melhor livro de Poesias.
PLANO DE VÔO (poesia) 1984 – Roswitha Kempf Editores
NOITE NÃO PEDE LICENÇA (poesia) 1987 – Roswitha kempf / Editores
TODO O FOGO DA LUTA (poesia) 1989 – Scortecci Editora
ENTREDENTES (teatro) – inédito
Fontes: site PCO e Literafro-UFMG
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