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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sinuca, Hotel Ruanda, Trote na USP e nossa realidade

Essa semana a gente tá recebendo a visita firmeza, aqui em casa, do Mannu U.F (Alerta ao Sistema). O mano ta morando em Mongaguá, apelidamos ele de "Caiçara", mas certa vez ele me disse quem de São Paulo pra morar lá, é na verdade "Gafanhoto", vai vendo.

Ontem a gente colou num buteco aqui na vila e fomos jogar uma sinuca, eu e minha parceira Raquel tomamos uma "surra" de cinco a um, do U.F e do Thiago. Ainda bem que as fichas já estavam pagas , por que se fosse no esquema "quem perdeu paga", a gente tava lascado. Mas tudo foi bem descontraido e demos umas boas risadas, principlamente nas horas que saiam umas jogadas dignas de um "Ruim Chapéu".

Depois colamos lá em casa tomamos uma brejas e fomos assistir, eu pela terceira vez, o filme Hotel Ruanda. Eu gosto desse filme pra caramba, pois retrata um conflito veridico que ocorreu em Ruanda, 1994, onde duas etnias (Tutzies e Hutus) lutavam pelo poder local, mas na verdade era escudo da Bélgica e da França.

Esse acontecimento pouco foi retratado na época do conflito e causou a morte de quase 1 milhão de pessoas, mas infelizmente quando se fala em genocidio muitos só se lembram do holocausto judeu, que também foi embaçado, e poucas pessoas lembram de dizer que na África, devido a conflitos como o de Ruanda, os países do ocidente provocaram muito, mas muito mesmo, mais holocausto. Por isso acredito que esse filme é muito importante, pois conta a verdadeira história dos conflitos no continente africano. Ou seja, mostra o grande envolvimento das grandes potências nesses conflitos e não minimiza, como faz a midia ocidental, que atualmente relata conflitos, como o que está ocorrendo atualmente no Quênia, como um "simples conflito étnico", sem contextualizar a situação politica e cultural do país.

Hoje fui fazer minha matrícula na USP, no curso de Letras. Como não pude levar minha mãe, como a maioria dos calouros fazem , pois a minha trampa de merendeira na escola do bairro nesse horário, eu chamei a Raquel pra ir junto comigo e ela também foi sacaneada no trote. Enquanto estávamos na fila, esperando pra fazer a matricula, sempre colava alguém com um pincel, eu sempre dizia que a caloura era ela e o pior que todo mundo acreditou, mas no fim não teve jeito, sai de lá cheio de tinta na cabeça e ainda recebi outro banho de tinta, misturado com champanhe em casa (Sacanagem do U.F, da Raquel e do Thiago), mas firmeza a comemoração é válida.

O que me deixou atento, foi ver que nem tudo é motivo para festejar, pois apesar de estar no espaço de uma faculdade pública, percebemos que a maioria dos estudantes que estavam lá pra fazer matricula, muitos deles acompanhados pelos pais, são pessoas que não vem de origem periférica ou afrodescente, somos minoria lá, isso é fato, eu já imaginava.

O pior é que na FFLCH ( a faculdade onde fica os cursos de humanas) é onde estuda a maioria dos nossos, e mesmo assim ainda somos minoria comparados ao todo.


Na verdade a gente notou uma grande presença do povo preto na USP, mas sabe como? Com o uniforme da firma que cuida da limpeza do Campus.

Ou seja, nos empregos que pagam menos, que são alvos de humilhações e que te impossibilitam de estudar. Lamentável, mas a gente tem que mudar essa real. Na Universidade pública tem que estar também os jovens periféricos, os jovens afrodescendentes. Pois muita gente critíca os programas de ação afirmativa que promovem nosso ingresso nas universidades, mas se não estivermos lá, pra estudar, trocar conhecimento e tornar real essa realidade pros nossos semelhantes, o ensino público vai continuar como está, ou seja, deixando tudo no mesmo lugar e a maioria dos formandos da USP não vão se preocupar em mudar uma realidade que não é a deles e não atrapalha o acesso de toda sua familia na USP. Mais uma vez digo tem que ser nóis por nóis, demorô.


Eu acabei de ler os textos que estão no blog do mano Rodrigo Ciriaco e confirmou tudo que escrevi acima, ele é professor da rede pública e mesmo correndo contra, deixa bem explicado o descaso que está o ensino público em São Paulo e se depender disso dificilmente estaremos nas universidades públicas do país. Tem muita coisa errada e se a gente não continuar se movimentando pra mudar, tudo vai continuar como está, por isso salve a correria e luta de todos os guerreiros periféricos, seja no Hip Hop, literatura, no samba, no cinema, nas artes plásticas, enfim quem faz de coração pra mudar esse mundão.

Aê Renato Vital, ai Robson Canto, salve! Mano sei que vocês tão afim de estudar e é isso mesmo trutas, demorô. conhecimento é poder, então bora pra faculdade também, mas de Quarta Sarau da Cooperifa é de lei que eu tô ligado e ter que ser assim mesmo, certo!

Firmão
É desse jeito!

Michel

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