"A informal" - monólogo de Ana Paula dos Santos Risos

Ana Paula em ação no sarau da Brasa

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No ultimo sábado (dia 28/03) nós fomos até a Casa de Cultura da Penha para prestigiar a estreia do monólogo "A informal" de Ana Paula dos Santos Risos, parceira peregrina das bordas literárias da cidade.

Essa é uma montagem teatral construída com poesias de algumas escritoras como Raquel Almeida, Maria Tereza, Lila Barbosa, Elizandra Souza e da própria Ana Paula. As cenas abordam cultura, questão racial e comportamento, dentro de uma possível informalidade na condição do que é ser mulher.

Sempre que encontramos a Ana Paula em algum sarau pela cidade ela nos oferece uma pitadinha cheia de promessa de sua atuação como atriz (por conta das circunstâncias), porém em "A informal" foi possível perceber que cada uma das suas performances e textos constrõem um todo vertente de sentimentos e reflexões sobre a vida de uma mulher negra poeta moradora de periferia, frequentadora assídua do sub-emprego em debate constante com perfis e estereótipos do mundo contemporâneo. Além disso, os textos das demais autoras que compõem a apresentação, entrelaçam o numa sintonia cheia de ritmo, por vezes sorridentes, por vezes tristes, mais que prendem a atenção de ponta a ponta. O cenário e as músicas presentes na peça tem uma construção bem criativa e inovadora, em que um simples corredor se torna um imaginário de ruas, restaurantes, lava -rápidos, sonhos, lembranças e intimidade, alinhada a forte atuação de Ana Paula.

Como o espaço utilizado no monólogo é bem parecido com o espaço do nosso terreiro, e pelo tempo de duração ser curto no relógio, mais eterno nas sensibilidades, fizemos um convite para que a Aninha venha apresentar "A informal" aqui no sarau Elo da Corrente, logo divulgaremos a a data da apresentação.

Ana Paula também tem divulgado durante suas apresentações seus folhetos, com poesias de sua autoria. O primeiro é o folheto "Ponto de Fuga", que contém a poesia "Garçonete", escrito que faz parte do roteiro de "A informal" e seu segundo folheto, lançado no ultimo sábado, é intitulado "Ainda no invisível", que além das escritos cheios de lirismo, indagações, afirmações e denuncias, vem como uma produção gráfica bem ligada ao universo afro em suas ilustrações.

Para saber mais sobre "A informal" escreva para: anamo.teatro@yahoo.com.br ou ligue 11- 9863-5583.

Em Abril o espetáculo será apresentado na Casa de Cultura do Itaim Paulista.

Abaixo algumas poesias de Ana Paula dos Santos Risos:

Garçonete

Das bandejas cheia de fartura

me sobra sorrir sem alegria

e da sobra ainda sobra

músculos, movimento, talento

Não pude ler Aristóteles, Platão

Marx, Bakunin

nem outros "pensadores".

Não deu tempo eu estava servindo

Pensei eu mesmo na bandeja

que pesa, me leva, me sustenta

Li um verso de um amigo

Uma composição bonita de música

Que falava do passado e do presente

De uma namoradinha

Presente depois ausente

Das coisas que mudam, acabam.

Li qualquer palavra de mulher

Alice Walker, Carolina Maria, Ivani Santos e outras

que pensam, agem e vivem

Li os olhos de uma garota

que estava de asas abertas

olhos que me serviram de sustento

asas que faziam voar meus pensamentos

e servi a noite toda.

Graça

Qual é sua graça moça?

A minha graça é uma desgraça sem fim

Que talvez se perceba quando olhe pra mim

Eu sou o lírio do campo de guerra

De uma guerra sem face

Que se perde assim

num sim e num não

Numa chibata dolorida

numa moça desconhecida

Tratada como o óbvio

Tratada como lógico

Mas que nada disso tem

tratada como um relógio despertador

que apanha todos os dias,

mas que não tem tempo.

Jogada ao vento,

por aqueles que são lentos

Cabisbaixa, mas não se encaixa nesse perfil

Não é conivente nem servil

Deixa nóis livre, deixa nóis livre.