Faz tempo que não indico ou escrevo sobre as leituras que tenho feito ultimamente, mas dessa vez não vai passar batido, principalmente porque são livros que li e gostei muito. Segue abaixo a foto das edições que li de cada obra, exceto do livro de Oswaldo de Camargo que não encontrei foto boa na net, mas postei uma foto desse grande mestre da literatura negra pra fortificar nossa memória e identidade.
*explicada aos meus filhos (História)
Alberto da Costa e Silva
Editora Agir, 2008
159 páginas
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Esse obra é parte integrante de uma coleção que traz também títulos com autoria de nomes como Nei Lopes e Jaques Le Goff. Esse titulo é assinado pelo historiador e ex-embaixador do Brasil na Nigéria e n Benim Alberto da Costa e Silva. Numa narrativa que segue um roteiro de perguntas e respostas, dividido por conversas o autor desvenda um continente africano que vai muito além da idéia de mono-cultura e selvageria tribais pela savana. A diversidade de nações, línguas, crenças, artes e valores são um bom exemplo de como as culturas africanas são complexas e valiosas, além de ser um referencial para pensar e constituir a história do Brasil, onde cerca de 5 milhões de pessoas chegaram do continente africano em nosso país pelo Diáspora forçada, mas que firmaram grandes heranças culturais e de resistências.
Mitos como: "Os africanos escravizavam a si mesmos", "Os europeus colonizaram a África sem muito esforço" são debatidos com uma linguagem simples e questionadora sobre as verdades incrustadas na versão oficial dos fatos.
Um trecho que me chamou grande atenção neste livro, é em relação a descrição
que a maioria das nações africanas cultivam no tratamento com as crianças e os idosos, pois as crianças ao nascerem são evolvidas em uma rede de proteção para garantir a vida, assim o futuro de cada cultura é semeado por gerações. E em relação aos idosos a relação é comparada a uma veneração religiosa, pois ali está presente a chegada dos ancestrais, da memória e sabedoria de um povo. No livro relata que entre os iorubas, por exemplo, um jovem não fala a um ancião sem se ajoelhar, agachar ou curvar-se, sempre com a cabeça mais baixa que ele, em sinal de respeito.
Esse livro foi um presente do parceiro Leko (Poesia na Brasa) para Yakini, mas não resisti e fiz a leitura antes dela, até pra me preparar melhor pros papos sobre nossa origem e trilha com a nossa pequena.
O carro do êxito (contos)
Oswaldo de Camargo
Livraria Martins editora, 1982
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Esse é o primeiro livro de contos do escritor e jornalista Oswaldo de Camargo, um dos grandes nomes da literatura negra brasileira. Ao conhecer um pouco sobre a caminhada de Oswaldo as leituras me remetem a uma autobiografia bem presente nos textos, mas que não diminuem a força criativa e poética de cada conto. Lembranças sobre encontros de poetas e ativistas na Associação Cultural do Negro, dos tempos de seminário, da relação familiar e as andanças pela cidade de São Paulo, amores e questionamentos me envolveram com uma narrativa forte e ao mesmo tempo lírica. No conto "Civilização", por exemplo, Oswaldo descreve a relação de um artista pianista que colidi com um racismo mascarado de boas intenções. Uma leitura indispensável para quem quer conhecer mais sobre o universo da comunidade negra em São Paulo em tempos que beiravam o fim da ditadura militar e o refortalecimento do movimento negro no Brasil.
Esse livro ganhei de presente do camarada Marciano (Ciclo Continuo) que é um amante de literatura negra, tem muitas reliquias em sua biblioteca, se um dia você tiver oportunidade de visitar, sem duvida é de encher os olhos o arsenal literário do mano.
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Uma carta para minha filha (romance)
J.Nozipo Moraire
J.Nozipo Moraire
tradução: Joana Angélica D´Avila Melo
Mandarim/Siciliano,1997
227 paginas
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Romance escrito por J. Nozipo Moraire, que nasceu no Zimbábue (ex- Rodésia), mas atualmente reside e estuda nosEstados Unidos. A narrativa é toda desenvolvida através de uma carta escrita para jovem Zenzele, que está estudando no exterior, por sua mãe. Zenzele é descrita como uma jovem de pensamentos revolucionários e questionadores sobre as tradições de sua cultura, porém em uma carta regada a muitas lembranças dos tempos de luta pela independência do Zimbábue, das relações da sua família e de exemplos de jovens da mesma comunidade que foram estudar no exterior com uma esperança de melhora de todos e nunca mais voltaram. Sua mãe demonstra como toda força e questionamento de Zenzele só é possível ser presente por conta da resistência e sobrevivência dos seus antepassados em tempos de luta.
Por meio dessa leitura, percebi que a escrita africana apresenta, nas letras de Nozipo, uma poesia muito diferente dos moldes e estruturas européias que predominam na literatura mundial mais difundida entre nós. A presença de uma transcrição que nos leva a semelhança da força oral me fez compreender melhor o quanto esse transmissão de conhecimento é importante para registrar não só histórias e lembranças, mas também sua beleza poética e emotiva.
Além do que, essa obra é uma grande fonte de pesquisa para entender a história do período neo-colonial em África, nessa caso especifico do Zimbábue (até então Rhodésia) e por vezes relacionando com a África do Sul da dinastia segregacionista do boeres.
Essa obra acabei achando em um sebo perto do metrô Belém, onde também já havia comprado "Demian" de Herman Hesse e "Malhação do Judas Carioca" de João Antonio, mas já conhecia o livro por indicação forte da poetisa Elizandra Souza, que adotou o nome Mjiba (jovem mulher revolucionária) desse livro.
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Quem tiver interesse de semear essas páginas ou
comentar essas leituras, aí está minha dica
Boa leitura!
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Michel
Um comentário:
Oi Michel, tudo bem?
Em setembro será lançado o livro de contos "A sombra que me seguia", de autoria da jornalista Adriane Salomão. Fizemos um blog para divulgar este livro.
Se tiver interesse em saber mais sobre estes 47 contos marcados por suspense em uma narrativa bem humorada e criativa, acesse: http://asombraquemeseguia.blogspot.com/.
Grata!
A sombra que me seguia | Equipe
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