O livro “Colonos e Quilombolas” registra histórias dos territórios negros urbanos formados em Porto Alegre, findo o trabalho escravizado, por meio do testemunho e da voz iconográfica de seus protagonistas, moradores da região conhecida como Colônia Africana. O território se iniciava na atual Cidade Baixa e passava pelos bairros Bom Fim, Mont’Serrat, Rio Branco e estendia-se até o bairro Três Figueiras, onde subsiste o Quilombo dos Silva, reconhecido pelo Governo Federal, mas, diuturnamente contestado pela vizinhança, como é regra no tratamento dado aos quilombos, urbanos e rurais, em todo o país. Apesar de ter suas ruas inscritas nos mapas do século XIX, a região, popularmente conhecida como Colônia Africana, nunca foi reconhecida pela Prefeitura como um bairro da cidade.
Os depoimentos e as fotografias nos contam uma história de resistência e reinvenção da vida na busca da humanidade plena, roubada pelo racismo. Os moradores da Colônia Africana nos alertam, por exemplo, que os porto-alegrenses gostam de pensar que os judeus foram os primeiros habitantes do Bom Fim. Não foram, não. Os negros chegaram antes, bem no início do século XX. Aos poucos foram imprimindo suas marcas nas festas populares e de origem religiosa que envolviam os imigrantes europeus, também moradores do bairro. A região era povoada por homens e mulheres negros qualificados para diferentes ofícios: trabalhadores(as) domésticos(as), tais como jardineiros, cozinheiras e damas de companhia; acendedores de lampião, roçadores de terrenos, lavadeiras, benzedeiras, condutores de carros e bondes, costureiras e músicos, dentre os predominantes.
Como define a professora Petronilha Gonçalves na introdução da obra: “Os habitantes da Colônia Africana, assim como de outros bairros negros de Porto Alegre são colonos, não porque povoaram áreas não habitadas, ou porque se dedicaram ao cultivo de terras. São colonos porque guardaram, aqueceram e lançaram em seus descendentes, sementes de culturas africanas e histórias de antepassados trazidos à força da África. Sementes que germinaram em trabalhos, celebrações, festejos, jogos, cuidados e criatividade.
Os negros colonos, como os quilombolas de que trata este livro, são guardiões de conhecimentos e da sabedoria que os escravizados trouxeram em seus corpos, consciência, sentimentos, e com os quais ajudaram a erguer a nação brasileira. São colonos e quilombolas porque resistem às reiteradas tentativas de desqualificação e de extermínio, porque ergueram e continuam erguendo fundamentos das africanidades brasileiras, resistindo para não desligar de suas origens.” Para narrar estas histórias, Cidinha da Silva se juntou às gaúchas Dorvalina Fialho, Vera Daisy Barcellos e Zoravia Bettiol, sob coordenação editorial de Irene Santos, e escreveu dez textos ficcionais a partir de depoimentos de ex-moradores da Colônia Africana para o livro “Colonos e Quilombolas”, um registro épico da territorialidade negra em Porto Alegre. Em tempo: Emanoel Araújo responsabilizou-se pelo prefácio. |
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