Nosso sarau recebe com satisfação a segunda estrada literária de Sonia Regina Bischain, “Nem Tudo é Silêncio”, romance que nos remete a um olhar esquecido sobre as fases e faces de uma história de primórdios que não consta nos livros didáticos, tampouco recebeu anistia dos coturnos, mas que é fruto dessa terra em erosão chamada Brasil.
Sonia surpreende pelo estilo narrativo, que sugere ativar a memória, a identidade, o pertencimento, em que cada peça vai se juntando página a página, sem que a instiga do desfeche se evapore. Um livro que clama re-leituras e perspectivas, a autonomia do leitor.
Sabemos de cor o quanto a era das patentes, nos anos 60 e 70, foi cruel e implacável contra uma classe que hoje, na sua maioria-minoria, representa as imposições do agora, o bolo não dividido, os ternos, gravatas e canetas de ouro, em troca das gandôlas, medalhas e os paus-de-arara de outrora.
Mas o que se passava no universo de Ritinha, uma militante moradora de periferia, que, juntamente com seus companheiros de luta, não tinha a opção de um auto-exílio em Paris, nem qualquer escudo de embaixadas estrangeiras?
Qual era a realidade de uma mãe já senhora e solitária, vista como uma anciã qualquer, em busca dos olhos de esperança dos seus filhos, perdidos nas caladas dos piquetes pela democracia? Onde essas histórias se cruzam e se fundem com as cores verde e amarelo? Com as pegadas que ainda não se apagaram em nosso chão?
Depois de versar em “Rua de Trás” (2009), Sônia vem com uma prosa que faz da tristeza e incertezas um olhar poético e sensível, que ela tem como poucos.
Letra madura, viva nas folhas, sedenta por leituras.
Um comentário:
Até que os leões possam contar suas próprias histórias, as histórias de caça sempre irão glorificar o caçador.
Provérbio africano
Aqui Sonia subverte o provérbio...a história contada pelo "lado fraco" ops...fraco???
Estamos aqui mais vivos do que nunca e prestigiando os nossos...com muito orgulho, força e alegria.
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