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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A mão de Paulo é a mão de Deus (por Michel Yakini)


As eleições têm deixado de ser um momento sério, se é que já foi, para ser um show de comédias. Não só pelo voto-celebridade que virou enxame nos últimos anos, com o “efeito Tiririca”, mas também pelas surpresas de muitas pessoas quando descobrem que no fundo o que tem rótulo de “água e óleo” nada mais é do que “farinha do mesmo saco”.
Lembro-me bem na última eleição para presidente, em 2010, em que havia uma onda muito positiva em favor da agora presidenta Dilma, com articulação de setores importantes, que me pareceu mais um “anti-serrismo”, do que um apoio convicto para a então presidenta. Havia gente gritando publicamente que quem não apoiava à “esquerda” era contra uma mudança justa, era a favor da politica da “direita”, era reacionário, e o que mais o dicionário permitisse, muito discurso na certeza de agrado certo. O momento foi bem importante, pois discutir politica é um dos avanços que temos que assumir pra entender e girar essa mesmice embolorada que ocupa as cadeiras executivas desde sempre. A eleição da presidenta Dilma, foi uma resposta, menos pelo “anti-serrismo” e mais por ser a eleição de uma mulher, bem articulada e experiente, na posição máxima desse país.
O que mais me intrigava nos debates e nos apoios era a forma invisível com que a base aliada da candidatura era tratada. Ninguém percebeu, ou fingiu não perceber, quem eram os comparsas dessa escolha, o que já não era novidade desde primeira eleição do ex-presidente Lula. Mas pra quem tem memória curta, vamos lá: Dilma subiu a rampa do planalto num momento emocionante, com inveja e engasgões de muitos dinossauros eleitoreiros, mas subiu “bem” acompanhada de Michel Temer, do PMDB seu vice na chapa e do Sinhozinho de Malta Maior “Zé Sarney” do mesmo partido, que em São Paulo representa o governo Fleury, o mesmo do massacre do Carandiru, pra não ficar em muitos exemplos.
Na festa da posse muitos viram as outras caras dessa base, que além do PMDB, tem o PP, Partido Progressista, que não conseguiu a vice-candidatura, mas sempre abocanha alguns ministérios importantes, como o das Cidades, atualmente com Aguinaldo Ribeiro. Esse partido tem como maior nome o ex-governador, ex-prefeito, ex-presidenciável e atual deputado federal por São Paulo: Paulo Maluf, o do “rouba mas faz”, “estupra, mas non mata”, “se o Pitta não for um bom prefeito nunca mais vote em mim”, entre outras pérolas dele e dos chamados malufistas. Quem esteve na festa de posse da presidenta Dilma, assim como na reeleição de Lula, deve ter esbarrado com Maluf ou mesmo observado como ele também comemorou essas vitórias.
A comédia é que agora depois de anos de parceria, entre Lula e Maluf, ou seja, entre PT e o PP, vem de novo “os moralistas do voto” dizer que jamais devemos votar em quem fecha parceria com Maluf, como se o encontro entre Lula/Haddad com ele fosse alguma novidade. Nem o “anti-serrismo”, que parecia ser o motor da ultima eleição, e de certo que não foi, está dando as caras dessa vez, talvez porque ficou tudo muito escancarado, né?
E eis que o destino paulistano está mais uma vez na Rota de um malufista, Celso Russomano, ou será de um ex-malufista? O candidato que, esse sim, rompeu com Paulo e conquistou a confiança do voto paulistano, o mesmo que agora aperta a mão do PRB, a mão de Deus, ou melhor, da Igreja Universal do Reino de Deus, do pastor-senador-ministro, sobrinho de Edir Macedo: Marcelo Crivella, do PRB, da base aliada da presidenta Dilma, com Maluf e Sarney. Celso Russomano é líder das intenções de voto, um candidato que confirma o “efeito Tiririca” há tempos e é um dos precursores do voto-celebridade, lembra do programa Aqui-Agora? Este lhe rendeu uma candidatura recorde como deputado federal em 1994, pelo PSDB, o mesmo do Serra, na época FHC, e que já não lhe compensa mais, pois agora é um partido derrotado da oposição, mas que em São Paulo faz o que bem entende repetindo Serras e Alckmins, na prefeitura e no estado há mais de década, e até deixando um sobejo de poder pra algum Kassab que o queira, também apoiado por Paulo, olha ele de novo, como no segundo turno das eleições estaduais de 2002, que elegeu Alckmin. 
Agora São Paulo está tão confusa como esse emaranhado de alianças e discórdias embaraçadas na mesma teia. O “anti-serrismo” está com vergonha de Haddad pelo aperto de mão que só se podia as escondidas, e abriu margem pra Russomano, ex-seguidor de Paulo e membro da mesma base nacional que é, mas parece que não é. Será essa a brecha pra Zé, o “pobre da Vila Mauá”, que ficou bravo por não conseguir apertar a mão de Maluf antes de Haddad, pois só lhe sobrou nesta campanha os elogios incansáveis da candidata Soninha Francine, ex-sub da Lapa da gestão Kassab, herança do Zé, que quando rasga elogios ao Metrô, devia substituir pelo nome “Serra” pra não ficar tão forçado, ou será melhor apoiar Carlos Giannazzi, do PSOL, pra não ficar de reacionário entre os intelectuais? Nas ruas as pessoas estão dizendo em alto e bom som: “Vou votar no Russomano, se não votar nele, voto no Serra”, “No PT não voto, apertou a mão de Maluf!”.  E assim segue as eleições em São Paulo, a maior confusão já vista na história desse país, e que sem dúvida conta com a participação decisiva da mão de Paulo, da mão de Deus, em mais uma grande obra de Maluf dedicada aos paulistanos.

Um comentário:

Mar Eu disse...

"Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava Dora que amava
Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha"
Chico Buarque