O Prêmio Bola de Ouro da FIFA, sem dúvida, é um dos mais esperados no
mundo do futebol. Tudo bem que nos últimos anos tem perdido a graça, ou
repetido a graça, pois um baixinho-argentino-canhoto, não aquele, agora o
outro, tem sido genial demais e ficado muito acima dos penteados do Cristiano
(ainda fico intrigado de chamá-lo de Ronaldo, questão de geração). Desde que,
Romário ganhou o prêmio em 1994, isso mudou a referencia dos jogadores no Brasil,
ainda mais com Ronaldo (3x, o verdadeiro), Ronaldinho (2x), Rivaldo e Kaká,
também agraciados, tudo virou de vez.
Já na milionária transferência do driblador Denílson, em 97, na época do
São Paulo e da Seleção, ao mediano Betis da Espanha, quando era perguntado
sobre sua ida a Europa, Denílson não falava sobre o possível titulo espanhol,
sobre o clube, sobre honrar a camisa, mas dizia de boca cheia; “Quero ser o
melhor do mundo”. Em 2005, Robinho era o grande talento do futebol nacional e
contratado a peso de ouro pelo galático Real Madrid, mostrou que nada aprendeu
com a ambição frustrada de Denílson, e foi pra Europa preocupado somente em ser
o melhor do mundo, deu no que deu: tanto Denílson, quanto Robinho são mais
conhecidos hoje, pelas suas pedaladas, do que por títulos conquistados, melhor do
mundo então... Passou longe, o canhotinha nunca foi sequer cogitado e Robinho
conseguiu um 17º lugar em 2005, em honraria por seus dribles no primeiro ano de
Espanha. Creio que além da vontade de ser melhor mundo, ambos foram inflamados
pela tendência que a mídia imprime no futebol de hoje, o de sucesso pessoal e
imediato, do jogador objeto, antes do coletivo e duradouro, do jogador humano.
Esse legado consolidou a era do Futebol-Umbigo (ou Era Pós-Beckham), em
que jogadores são empenhados em ir pra Europa, e logo querem serem o melhor do
mundo, antes mesmo de conquistar algum titulo de expressão no país, de ser
titular da seleção, ganhar uma copa do mundo. Por isso são considerados como
marcas e não como cabeça pensantes, basta observar as entrevistas das
principais estrelas do futebol atual, parecem máquinas programadas de frases e
sorrisos forçados, não falam mal de ninguém, não refletem a profissão, não
questionam nada. O capetinha Edilson, campeão da Copa de 2002, e xodó eterno
das torcidas de Corinthians e Palmeiras, em entrevista recente concedida a um
canal de TV a cabo, falou sobre a diferença do futebol do seu tempo, e da
geração atual (e olha que ele parou em 2010), e disse que os jogadores de sua
época se preocupavam mais com o futebol, em ganhar os jogos, e que hoje é
preciso estar primeiro com um penteado moderno antes de qualquer coisa. Comentou
que os técnicos cobravam mais determinação em campo e menos espelho, apesar de
sabermos que sua geração foi raspada a zero, e que agora ele sente um clima
diferente na ambição dos boleiros.
Mesmo Neymar, que é mesmo acima da média, tudo bem que o nível tá fraco
pra equiparar, não ganhou nenhum titulo expressivo esse ano pelo Santos, a não
ser o Paulistinha, e nem o tão esperado ouro pela Seleção, mas é comparado a
Jesus Cristo em capa de revista, fez mais comerciais do que jogos pelo
Brasileirão e os microfones teimam em ficar forçando que ele seja o melhor do
mundo, pois é isso que importa, que se dane que ele não ganhou nada, a
indignação é porque ele não está na lista final do melhor do mundo.
Nada contra o Neymar, longe disso, admito que já fui ver jogo do Santos,
só pra ver ele jogar, mas temo que a empolgação da mídia sobre sua genialidade
resulte em lembranças de pedalada como aconteceu com Denílson e Robinho, pela
necessidade de glamour do Futebol-Umbigo. Até a premiação da Revista Placar, a
mesma da capa citada acima, que eu achava uma das mais coerentes, premiou
Neymar com o “hors-concours”, titulo que Pelé ganhou já consagrado, com um tri
mundial pela seleção e um bi pelo Santos, mais uma prova do imediatismo do
Futebol-Umbigo. Quanto ao futuro igual ao de Denílson e Robinho, espero estar
enganado, até porque Neymar é mais goleador e decisivo que seus antecessores. Tomara!
Hoje, os jogadores são
transformados em deuses sem epopéias, mitos sem histórias, e o futebol é uma subcategoria
desse cenário. Com o andar da carruagem é possível que, cada vez mais, o
espetáculo da bola, dos dribles, dos gols, seja coadjuvante dos candidatos ao melhor
topete futebolístico: O Prêmio FIFA de Futebol-Umbigo.
Um comentário:
ducaralho! adorei, michel! nasce um cronista de mão cheia! esta está ainda melhor do que a anterior. oh... acho que no meio do texto tem uma pelada onde deveria ser pedalada. confira lá, por favor. beijos e parafraseando o que um amigo me diz... escreva, michel, escreva!
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