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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Minha Poesia (José Carlos Limeira)

Minha poesia não se presta

Ao chá da cinco da academia

Prefiro fala lá pelas calçadas

Nas paradas de ônibus

Molhada do burburinho da cidade

Dos batuques



Minha poesia

Se pica pela traseira do coletivo

Sem pagar

Se esfrega no reggae

Vigiando atento a cabrocha gostosa

Cheia de truques



Minha poesia

Nunca será exemplo

De paladar

Pode se ligar no hip hop

Pro toque



Haja vista seus versos aptos

A fila do SUS

Acordados antes da luz

A serviço do meu povo

Contando seus dramas



Minha poesia

pode até passar da hora na cama

Na mais pura desobediência

                                         aos patrões



E como podemos supor

Nem tem métrica

Nem vem em rimas ricas

Podendo ser rica

                          de palavrões!



Ela é mesma onisciente

Mais a acima das futricas

Jamais será clássica

Fugiu da sala de aula bem cedo

Desassombrada e sem medo



Levou porrada nos porões

Já foi censurada

Viajou de carona

Em longos anos de estrada



Minha poesia está a serviço

De levantes e revoluções

Libertou-se da mordaça

Deixou de ficar calada

E sim um dia não for a luta

E de graça


Ela é toda de minha amada.




José Carlos Limeira,  nasceu em Salvador -BA em 01 de maio de 1951. Engenheiro Mecânico, atualmente é Assessor Técnico da Reitoria da Universidade do Estado da Bahia. Escreve poemas, contos, crônicas e artigos publicando desde 1971. Entre seus livros, Zumbi... dos, Lembranças, O Arco Íris Negro (parceria com Éle Semog), Atabaques (parceria com Éle Semog). Participou de vários números dos Cadernos Negros e das Antologias Schwarze Poesie (Ed. Diá-Alemanha), Schwarze Prosa (Ed, Diá -Alemanha), Callaloo vol 2 (USA), Callaloo (Special Issue - 300 anos Zumbi -USA), Axé-Antologia da Poesia Negra Brasileira Ed Global 1983, A Razão da Chama Ed. GRD, Negro Brasileiro Negro número 25(Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e outras. Verbete em Quem é Quem na Negritude Brasileira Ed.CNAB 1998, citado em diversas teses e publicações como A Mão Afro-Brasileira (Significado da Contribuição Artística e Histórica - Ed.Tenenge 1988), O Negro Escrito (Oswaldo de Camargo) entre outras.




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4 comentários:

Quilombrasa disse...

VAleu Elo mais um que conta agora em nosso repertório, tardiamente é claro por toda contribuição que ja é de há muito tempo, mais é mais rica por vim pelo espaço de quem vem...

Unknown disse...

é isso meus irmandade,José Carlos Limeira é poesia testemunha da cor, compositor do jazz brasileiro, do lamento descontente do negro que espanta os fantasmas da escravidão e dança o sagrado na resistência de nossa cultura. Parabéns Elo, por essas letras negras que não se deixam diluir no periferismo. Kolufé!

JC Limeira disse...

Muito obrigado pela lembrança.
Sigo nessa estrada que vai dar no futuro digno para negros e negras, deste país. Precisamos de mais versos e espaços como o ELO da Corrente haja vista que os entendo como tijolos da construção do edifício da literatura negra, de resgate, de luta e de amor.
Após o apagão de ontem aqui no nordeste lembrei de um verso que fiz para a negra amada "se não houver luz vou amar-te em braille"
axé e Luta
José Carlos Limeira

Unknown disse...

Infelizmente, José Carlos Limeira nos deixou no dia 12/3/2016, depois de lutar bravamente por mais de 1 ano, contra um problema cardíaco. O seu legado nos será eterno , a nossa poesia ficou mais pobre...