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segunda-feira, 25 de maio de 2009

PATATIVA DO ASSARÉ - 100 ANOS (1909-2002)



Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Foi casado com D. Belinha, de cujo consórcio nasceram nove filhos. Publicou Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Está sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil.


Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão', declamava. Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de menino violeiro se espalhou. Com oito anos trocou uma ovelha do pai por uma viola. Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era o Patativa do Assaré. Nessa época os poetas populares vicejavam e muitos eram chamados de 'patativas' porque viviam cantando versos.


Ele era apenas um deles. Para ser melhor identificado, adotou o nome de sua cidade. Filho de pequenos proprietários rurais, Patativa, nascido Antônio Gonçalves da Silva em Assaré, a 490 quilômetros de Fortaleza, inspirou músicos da velha e da nova geração e rendeu livros, biografias, estudos em universidades estrangeiras e peças de teatro. Também pudera. Ninguém soube tão bem cantar em verso e prosa os contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza. Talvez por isso, Patativa ainda influencie a arte feita hoje.


O grupo pernambucano da nova geração 'Cordel do Fogo Encantado' bebe na fonte do poeta para compor suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas músicas dele, entre elas a que lançou Patativa comercialmente, 'A triste partida'. Há até quem compare as rimas e maneira de descrever as diferenças sociais do Brasil com as músicas do rappers brasileiros. No teatro, sua vida foi tema da peça infantil 'Patativa do Assaré - o cearense do século', de Gilmar de Carvalho, e seu poema 'Meu querido jumento', do espetáculo de mesmo nome de Amir Haddad. Sobre sua vida, a obra mais recente é 'Poeta do Povo - Vida e obra de Patativa do Assaré' (Ed. CPC-Umes/2000), assinada pelo jornalista e pesquisador Assis Angelo, que reúne, além de obras inéditas, um ensaio fotográfico e um CD.


Como todo bom sertanejo, Patativa começou a trabalhar duro na enxada ainda menino, mesmo tendo perdido um olho aos 4 anos. No livro 'Cante lá que eu canto cá', o poeta dizia que no sertão enfrentava a fome, a dor e a miséria, e que para 'ser poeta de vera é preciso ter sofrimento'. Patativa só passou seis meses na escola. Isso não o impediu de ser Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, 'já disse tudo que tinha de dizer'. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome.
Fonte: site Tanto Literatura


acompanhe as poesias abaixo no video:


CABOCLO ROCEIRO


Caboclo Roceiro, das plaga do Norte

Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,

A tua desdita é tristonho que canto,

Se escuto o meu pranto me ponho a chorar


Ninguém te oferece um feliz lenitivo

És rude e cativo, não tens liberdade.

A roça é teu mundo e também tua escola.

Teu braço é a mola que move a cidade


De noite tu vives na tua palhoça

De dia na roça de enxada na mão

Julgando que Deus é um pai vingativo,

Não vês o motivo da tua opressão


Tu pensas, amigo, que a vida que levas

De dores e trevas debaixo da cruz

E as crides constantes, quais sinas e espadas

São penas mandadas por nosso Jesus


Tu és nesta vida o fiel penitente

Um pobre inocente no banco do réu.

Caboclo não guarda contigo esta crença

A tua sentença não parte do céu.


O mestre divino que é sábio profundo

Não faz neste mundo teu fardo infeliz

As tuas desgraças com tua desordem

Não nascem das ordens do eterno juiz


A lua se apaga sem ter empecilho,

O sol do seu brilho jamais te negou

Porém os ingratos, com ódio e com guerra,

Tomaram-te a terra que Deus te entregou


De noite tu vives na tua palhoça

De dia na roça , de enxada na mão

Caboclo roceiro, sem lar , sem abrigo,

Tu és meu amigo, tu és meu irmão.




MENINO DE RUA


Menino de Rua, garoto indigente

Infanto Carente,

Não sabe onde vai

Menino de Rua, assim maltrapilho

De quem tu és filho

Onde anda o teu pai?


Tu vagas incerto não achas abrigo

Exposto ao perigo

De um drama de horror

É sobre a sarjeta que dormes teu sono,

No grande abandono

Não tens protetor


Meu Deus! Que tristeza!Que vida esta tua

Menino de Rua,

Tu andas em vão

Ninguém te conhece, nem sabe o teu nome

Com frio e com fome

Sem roupa e sem pão


Ao léu do desprezo dormes ao relento

O teu sofrimento

Não posso julgar,

Ninguém te auxilia, ninguém te consola,

Cadê tua escola,

Teus pais teu lar?


Seguindo constante teu duro caminho

Tu vives sozinho

Não és de ninguém

Às vezes pensando na vida que levas

Te ocultas nas trevas

Com medo de alguém


Assim continuas de noite e de dia

Não tens alegria

Não cantas nem ri

No caos de incerteza que o seu mundo encerra

Os grandes da terra

Não zelam por ti


Teus olhos demonstram a dor, a tristeza,

Miséria, pobreza

E cruéis privações

E enquanto estas dores tu vives pensando,

Vão ricos roubando

Milhões e milhões


Garoto eu desejo que em vez deste inferno

Tu tenhas caderno

Também professor

Menino de Rua de ti não me esqueço

E aqui te ofereço

Meu canto de dor

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